terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A minha segunda reportagem no Haiti


Também eu não consegui, desta vez, deixar todas as minhas emoções à margem do texto...
A pedido dos muitos que me escreveram, lamentando não ter conseguido comprar a Visão, aqui fica a última reportagem que escrevi em Port-au-Prince.

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O país dos órfãos

Nas ruas de Port-au-Prince vêem-se miúdos perdidos, caminhando de forma errante, com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Há orfanatos sobrelotados e improvisados em tendas. Há bebés a desaparecerem dos hospitais, roubados por traficantes sem escrúpulos. Há pais em estado de choque, que mal conseguem balbuciar o nome dos filhos, sepultados nas escolas onde aprendiam a ler. São as vidas que o sismo levou – e não as réplicas que continuam a abalar o Haiti – o que mais faz estremecer os corações de quem escapou

Por Patrícia Fonseca, enviada especial

Joseph entra a medo no que resta da sua casa, avança com cuidado por entre os destroços e pára junto a uma mesa de madeira, coberta de pó. Agarra numa panela amolgada e suspira: «Ela estava aqui, a adiantar o jantar...» Ela era Angel Julmisse, tinha 34 anos e uma alegria que contagiava todos os que a conheciam. Trabalhava ao balcão de uma loja do centro de Port-au-Prince e, naquele 12 de Janeiro em que a terra tremeu, saíra mais cedo.

Faltavam oito minutos para as cinco da tarde. A filha de 11 anos, Widchine, ainda estava na escola. Os dois mais pequenos, Abdia Adriano, 4 anos, e Celena, de 3, brincavam no quintal da avó materna, duas ruas ao lado. Joseph lixava uma estante, na sua oficina de carpintaria. Em menos de um minuto, o sismo de 7.0 graus na escala de Richter arrasou a cidade – e a vida desta família.

O carpinteiro pôs um pé na rua instantes antes de a sua oficina desabar. Ficou caído no meio da estrada, sentindo o bairro chocalhar, ouvindo os gritos de uma cidade em pânico sobrepondo-se ao rugir enraivecido da terra. Assim que tudo parou, Joseph viu-se no meio de uma multidão de feridos e de mortos. Todas as casas à sua volta estavam no chão. A sua velha motorizada estava soterrada por pedregulhos. Desatou a correr para casa, a mais de cinco quilómetros de distância, temendo pelos seus. O sol já quase morria quando entrou na sua rua e, por momentos, sentiu alguma esperança. Havia casas de pé. A sua tinha desabado parcialmente. A parte da frente estava espalhada pelo chão, transformada num amontoado de tijolos e poeira. «Gritei por ela e pelos meus filhos, revirei tudo mas não os encontrava...» Até que viu uma mão. Angel ficou debaixo da parede da cozinha e Joseph não tinha forças para a arrancar de lá. Correu para casa da sogra, onde encontrou os filhos a salvo, e convenceu um vizinho a tentar ajudá-lo a resgatar Angel. Mas a força de dois homens não chegava para mover o pedaço de parede que a sepultava. A noite caiu e ele ficou ali, agarrado à sua mão sem vida, soluçando até amanhecer.

Foi o cunhado, Julmisse Vital, que o encontrou aninhado nos escombros, às primeiras horas da madrugada, em estado de choque. «Levei quase uma hora a convencê-lo a largar a minha irmã... Depois conseguimos tirá-la e fizemos um funeral simples, nesse mesmo dia.» Desde então, Joseph não dorme. Fica a velar pelos filhos, que agora vivem na casa da avó, uma casita pobre que miraculosamente resistiu ao abalo. As camas, porém, foram transferidas para o quintal - ninguém ousa ainda deitar-se sob outro tecto que não seja o céu.

O carinho que une este pai aos seus filhos é notório, é difícil vê-lo dar um passo sem a pequena Celena ao colo e Abdia Adriano pela mão. Mas ele quer dá-los para adopçãoe tentar emigrar. «Já fui a três orfanatos e dizem que não podem ajudar-me. Não sei que fazer... não tenho dinheiro, não tenho trabalho, não tenho comida para lhes dar.» Com 11 anos, Widchine percebe tudo o que pai vai dizendo. Enrola a ponta da saia com os dedos nervosos, os olhos pregados ao chão. E estremece quando Joseph me suplica que os leve comigo. «Se não pode tomar conta dos três, pelo menos fique com esta», diz, atirando Celena para os meus braços: «Leve-a, leve-a.»

Proibido adoptar
Sair com uma criança do Haiti é, neste momento, quase impossível. Pelo menos, de forma legal. Só com uma assinatura do primeiro-ministro, que chamou a si todo o controlo dos processos de adopção, na quarta-feira, 20. Além disso, só são admitidos pedidos para acelerar os processos que já tivessem sido iniciados antes do terramoto. Num país que terá agora perto de dois milhões de órfãos, o governo congelou todas as adopções depois das notícias de que estariam a ser levadas crianças para fora do país com papéis de origem duvidosa – ou sem quaisquer documentos, a bordo de pequenas avionetas privadas norte-americanas, que começaram a pousar no aeroporto da cidade menos de 24 horas depois do sismo. Segundo a Unicef, pelo menos 15 bebés foram levados de hospitais da cidade por redes de tráfico de crianças, que descobriram no meio da desgraça das famílias haitianas uma nova oportunidade para fazerem negócio. Dos orfanatos saíram também algumas centenas por intermédio de agências de adopção e congregações religiosas que, agora, estão a ser investigadas pela Unicef e pela polícia local.

É o caso da igreja de Brent Gambrell, um pastor presbiteriano de Nashville, nos EUA, que na sexta-feira, 22, estava no aeroporto de Port-au-Prince, ao lado de um avião privado, com uma menina ao colo. «Não estou a fazer nada ilegal e só quero ajudar estas crianças a terem uma família», diz, irritado. A pequena Julie, que terá quatro a cinco anos e esconde a cara, muito assustada, terá «pais novos» à sua espera, no aeroporto de Fort Laurderdale, na Flórida. Segundo Gambrell, Julie já estava em processo de pré-adopção pelo casal norte-americano antes do terramoto. «Estava num orfanato de Carrefour, onde morreram muitas crianças. Salvei de lá as que pude.» Não diz quantas. Mas acaba por contar que já fez a ligação entre Port-au-Prince e Fort Laurderdale «muitas vezes», nos últimos 10 dias, em aviões privados «de amigos ricos que quiseram ajudar». E como, e porquê, chegou o pastor ao Haiti? «Uma grande amiga minha [norte-americana] ligou-me desesperada porque a sua filha, de 22 anos, estava a fazer voluntariado no orfanato de Carrefour. Não havia telefones, ninguém tinha notícias, estaria morta, ferida? Deram-me um avião e eu vim. Aterrei aqui 12 horas depois do terramoto. E encontrei-a! No dia seguinte, já estava nos EUA.»

Com a filha da amiga, acaba por assumir, foram também as crianças que couberam no pequeno avião. E como mais ficaram para trás, ele voltou. Uma e outra vez. Agora está no aeroporto da capital do Haiti há dois dias, «preso por burocracias». Na embaixada dos Estados Unidos em Port-au-Prince, o processo de Júlia juntou-se ao de milhares de pedidos de vistos de emergência. Só na sexta-feira, 22, estavam mais de 400 crianças nas instalações norte-americanas, para serem identificadas antes de, eventualmente, poderem partir.

Um camião-berçário
Cento e sete dessas crianças estão ao cuidado do orfanato Maison de les Enfants de Dieu, uma instituição religiosa na zona mais pobre do bairro de Delmas. O director, Pierre Alexis, jura que já tinham processos de adopção iniciados antes de 12 de Janeiro. «Acontece que os trâmites podem levar até 24 meses e a maioria ainda estava numa fase inicial. Mas com esta desgraça, não há tempo para papeladas. Estamos a dormir na rua, sem comida, sem água. Estes meninos têm famílias à espera deles e devem poder partir, o mais depressa possível.»

A casa, que servia de abrigo a 135 crianças e 26 bebés, ruiu parcialmente. O muro que rodeia o orfanato está sulcado de rachas e sustém a custo um enorme portão de ferro. No quintal há tendas a servir de quartos, e uma sala de estar improvisada, com um sofá de palhinha cravado na terra e um toldo de plástico a fazer de tecto. Dezenas de miúdos correm descalços à volta da casa ou saltitam nos colchões espalhados pelo chão. Têm roupas gastas e sujas, com os seus nomes escritos a esferográfica azul: Leane, Guyto, Natasha. Mas nem sempre os nomes condizem. «Quantos anos tens, Eline?», pergunto a uma menina de oito ou nove anos, que se colou a mim como uma sombra, desde que cheguei. «Não...não Eline», diz com um sorriso envergonhado, estendendo o braço na minha direcção. Nas costas da sua mão pequenina, com as unhas pintadas de cor-de-rosa, estava a resposta certa: Seenia. A idade, não soube dizer.

Nas traseiras do orfanato, um velho camião voltou a ter utilidade. É na caixa de carga que está agora o berçário – sem berços, claro, apenas velhos cobertores embalando o sono de meninos dispostos em fila, muito juntinhos, com as testas brilhantes de suor. A maioria não tem fraldas, que por aqui escasseiam há muito. «Nos primeiros dias depois do terramoto, nem comida tinhamos. Água também não», diz Pierre. «Eles choravam com fome e nós chorávamos com eles», explica Marie, uma das amas, chegando com Berlando nos braços – um dos poucos bebés que o orfanato aceitou, nos últimos dias. «Tem oito meses e o pai e a mãe morreram no terramoto. A avó apareceu aqui, muito doente, suplicando-me que ficasse com ele. Foi um caso extremo. Só aceitei dez crianças até agora. Todos os dias recuso dez vezes mais», lamenta o director. «Não tenho onde os pôr. Nem o que lhes dar de comer.»

A história repete-se por todos os orfanatos da cidade. Na Village Espoir, apesar da palavra esperança que ostenta na fachada, as portas estão fechadas para novos órfãos. Daqui também não é provável que saiam crianças, a curto prazo. «A maioria dos meninos que vivem connosco têm pais – ou, pelo menos, um deles. São filhos de gente pobre, que não tem como os criar. Mas poucos são os que aceitam desistir deles para a adopção», explica a directora Marilude Nestor. O edifício imponente, de três andares, alberga 80 crianças – 25 são deficientes profundos. Mantém-se aparentemente intacto mas ninguém o utiliza. «Quando precisamos de alguma coisa, entramos a correr e saímos o mais depressa possível. A terra continua a tremer todos os dias, temos muito medo», diz Marilude, fazendo uma ousada visita guiada até ao segundo andar, onde ficam as salas de aula. A Village Espoir tem também escola, até ao ensino secundário. Numa das salas, um quadro de ardósia tem ainda escrita a última lição, explicando as utilidades do algodão. No topo direito, com letra infantil, permanece escrita a data fatídica: Mardi, 12 de Janvier de 2010.

Quando a terra tremeu, poucos foram os que conseguiram fugir para a rua. «Ficámos em pânico, alguns miúdos esconderam-se debaixo das mesas, eu corri para junto dos deficientes... seria impossível levar todos os que estão em cadeira de rodas para a rua, em tão poucos segundos. Foi Deus que nos valeu», acredita.

«Game Over»
A mesma sorte não tiveram milhares de crianças que estavam, nesse momento, em muitas escolas haitianas. Quase todas ruíram e dezenas soterraram todos os seus alunos, sem deixar sobreviventes. Kerina Materes, 32 anos, perdeu dois dos seus três filhos no liceu Gaston Bachelard, na cidade de Lêogane. Situada junto ao mar azul-turquesa, rodeada por palmeiras e praias com nomes convidando ao turismo, como Bikini Beach , Lêogane é hoje, contudo, um cenário nada digno de um postal. Esta foi a zona de epicentro do sismo, desfazendo mais de 90% das casas, e no ar ainda paira o cheiro a morte – cerca de 40 mil pessoas morreram aqui.

Kerina vende papaias e cana de açúcar no mercado local e vai fazendo negócio, sobretudo, junto das carrinhas coloridas, as tap-tap, que passam rumo ao interior rural da ilha, carregadas de gente em fuga. «O campo é pobre mas sempre há qualquer coisa para comer, aquilo que a terra dá...», explica Kerina. Ela preferia fugir para Santo Domingo, na vizinha República Dominicana, onde já trabalhou «em casas de família». Mas o bilhete de autocarro custa agora 100 dólares. E há muitas dificuldades para atravessar a fronteira.

Com o pouco dinheiro das suas poupanças fez questão de dar um funeral aos seus filhos. E aos seus pais. Sim, Kerina perdeu também o pai e a mãe. E a todos deu uma campa. «Não pude pagar aqueles caixões finos, os cascas de ovo, mas comprei umas caixas. E, pelo menos, sei onde eles estão», conta, lançando uma gargalhada despropositada. Há quem chore, quem esteja em choque e mal fale, há quem ria. Kerina ri muito. Recusa repetir os nomes dos seus mortos e diz que deixou o filho que sobreviveu, com 5 anos, em casa da avó paterna. «Não tenho cabeça.» Diz isto bamboleando o corpo e batendo palmas numa rua rasgada ao meio por uma fenda aberta pelo terramoto, passando pela fachada de uma casa de jogos em ruínas, onde ainda é possível ler, em letras garrafais, «Game Over». O jogo acabou também para esta mulher, que apenas aposta que não terá mais homens ou filhos. «Não volto a parir, nunca mais. Já chega de dor, já chega.»

Lêogane fica a duas horas de carro de Port-au-Prince e, pelo caminho, surge outra das zonas mais afectadas pelo terramoto: Carrefour. Este será, talvez, o local onde mais pais choram os seus filhos perdidos. Só na escola primária, que ruiu num segundo, morreram mais de 400 crianças que ali aprendiam o bê-á-bá. «Fui lá à procura dos meus filhos, estava tudo destruído... gritei, gritei, mas ninguém respondeu», conta Noel Jean-Marie, 43 anos, um reparador de pneus que fala sempre com a mão direita fechada sobre o peito, como que se isso pudesse servir de remendo para o seu coração. Niftale e Natalie tinham 7 e 8 anos. «Ontem [uma semana depois do terramoto], as máquinas começaram a limpar a zona da escola. Encheram quatro camiões de corpos. Tentei encontrar os meus meninos no meio de tudo aquilo mas não consegui». Terão acabado, junto com as outras crianças, enterradas em valas comuns de 20 por cinco metros, nos pântanos que rodeiam a capital.

A casa de Noel também se desfez «como se fosse açúcar». Dorme agora no estádio de futebol de Port-au-Prince, com a mulher, Kateline, e os dois filhos que lhe restam: Sege, 10 anos, e Natasha, 13. «Não sei o que vai ser da nossa vida», lamenta, ao lado das mulheres que ocuparam uma das bancadas do estádio, cozinhando o pouco que conseguiram arranjar nessa manhã, no mercado local. Em fogareiros de carvão, faz-se arroz com feijão e papas de farinha. Uma das panelas de ferro tem uma inscrição em jeito de prece: «Jesus». Só uma mulher, Maranata, tem um peixe à espera de ser frito. É uma espécie de carapau, de consistência e cheiro duvidoso. O que em Portugal seria uma meia-dose é aqui partilhado por nove pessoas.

Pedófilos ao ataque
Numa outra zona do estádio, uma adolescente tenta adormecer a sua filha de 6 meses, Farencia, à sombra de um lençol esburacado, preso por três paus. Magdala tem 17 anos e uma perna envolta em ligaduras, que mal a deixa andar. Já não tem leite no peito e, durante dias, mãe e filha não tinham o que comer. Agora foram «adoptadas» por um casal que conheceram no estádio, James e Lovely, de 36 anos, e a sua filha Fara, com 13, voltou a sorrir por causa daquela «boneca» nova, uma bebé rechonchuda como poucas no Haiti. James é segurança privado e vai conseguindo trabalhar. «Agora têm-me chamado para ajudar organizações humanitárias, mas não é todos os dias.» Com o pouco que ganha, vai conseguindo comprar alguma comida. Dois sacos, de onde espreitam bolachas e uma garrafa de água, estão escondidos dentro da tenda que os acolhe. «Aproveito para dormitar um pouco ao final do dia porque à noite tenho de ficar de vigia. Há muitos roubos, temos de estar atentos.» No hospital norte-americano montado no que resta da universidade de Quisqueya, já tinha encontrado André Lagan, um jovem de 18 anos que ali chegara com dois tiros na coxa. Tudo para lhe roubarem um saco de arroz.

James teme que a violência aumente com a fome e queixa-se da falta de apoio das organizações internacionais. Diz que só conseguiu encontrar, por uma única vez, uma distribuição de água, junto ao palácio presidencial. «Temos fome, muita fome», repetem os seus vizinhos, querendo meter-se na conversa, mas logo desatam a correr para a zona do túnel, onde uma equipa muito especial se prepara para entrar. São as tropas americanas, que pelo terceiro dia aqui vêm distribuir comida: uma dose de ração de combate (noodles com galinha) e uma garrafa de água pequena para cada pessoa. O que trazem não chega para todos. Talvez para um quarto, se tanto. E os mais fracos, de entre as 3 500 pessoas que ali montaram tenda, ficam sempre para trás. Alguns miúdos conseguem furar por baixo das pernas dos mais velhos, resistindo às pisadelas e aos pontapés, e Stevon, que tem 11 anos e adora o Cristiano Ronaldo, já é perito nessas fintas. «Hoje só não consegui trazer a água», lamenta. Caiu-lhe das mãos e logo um matulão ficou com ela. «Onde estão os teus pais?», pergunto, enquanto um bando de catraios nos começa a rodear, curiosos com a minha presença. «Não sei...», começa por dizer. Logo um mais velho me interpela, com ar agressivo, inquirindo o que quero dali. Explico que procuro crianças órfãs, que ali estejam sozinhas, e é o meu guia local que me salva de um safanão. «Daqui ninguém rouba mais miúdos!», grita, desaparecendo no meio da multidão, arrastando Stevon pelo braço.

Uma senhora que assiste à cena explica que há «estrangeiros esquisitos que andam a levar crianças», não se sabe para quê nem para onde. O governo e a Unicef estão preocupados com as adopções ilegais mas, sobretudo, com estas «outras» redes de tráfico de crianças – as da pedofilia, que andarão à caça no Haiti.

Em todos os campos de refugiados, e por toda a cidade, há bandos de miúdos sozinhos. Criam cumplicidades, como os do grupo do estádio, dormem juntos, roubam juntos. Mas também há os que não têm ninguém. Como o menino desesperado que avistei do carro ao abandonar Port-au-Prince, chorando em soluços, procurando um rosto conhecido no meio da multidão. Teria oito ou nove anos e fixou-me por instantes. «O que foi?», perguntei à distância, esperando que me conseguisse entender. Mas ele atravessou a rua, continuando a sua busca. O meu carro arrancou no sentido contrário e, mesmo sabendo que seria impossível cruzarmos a fronteira, o meu coração não parava de repetir: «Leva-o, leva-o.»

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns, parabéns, parabéns.

Primeiro quero dizer que li esta excelente reportagem (a melhor, de longe, da imprensa portuguesa) em 10 min. Como eu gostava de ler textos assim nos jornais! Mas dizem que não há espaço e que as pessoas não lêem chouriços!!

A grande vantagem de trabalhar numa revista (além do talento, claro) é ter espaço para escrever . Assim, nós os leitores, conseguimos imaginar o local, "ver" a destruição, "sentir" o desespero de quem tenta encontrar alguém ou que já não tem nada para procurar, "cheirar" o ambiente de morte. Acho que só não consigo imaginar o que se sente quando um pai nos pede para "salvarmos" uma criança.
Neste segunda reportagem consegui "estar" no Haiti.

3 de Fevereiro de 2010 17:02

Anónimo disse...

Parabéns, parabéns, parabéns.

Primeiro quero dizer que li esta excelente reportagem em 10 min. Como eu gostava de ler textos assim nos jornais! Mas dizem que não há espaço e as pessoas não lêem "chouriços". Mentira. Quando a história é boa e muito bem escrita como esta qualquer pessoa lia 10 páginas. Só um senão: a falta que faz mandar um fotojornalista para reportagens como estas. A crise é uma boa desculpa para muita coisa.

A grande vantagem de trabalhar numa revista (além do talento, claro) é ter espaço para escrever . Assim, nós os leitores, conseguimos imaginar o local, "ver" a destruição, "sentir" o desespero de quem tenta encontrar alguém ou que já não tem nada para procurar, "cheirar" o ambiente de morte. Acho que só não consigo imaginar o que se sente quando um pai nos pede para "salvarmos" uma criança.
Neste segunda reportagem consegui "estar" no Haiti.

AM

3 de Fevereiro de 2010 17:02

Patrícia Fonseca disse...

Muito obrigada, AM. Que bom é receber elogios destes de quem nos lê :)Um abraço.

Luis Eme disse...

gostei tanto de a ler, Patrícia, que transcrevi o final da sua reportagem no meu blogue, "largo da memória".

Patrícia Fonseca disse...

Obrigada, Luís. É difícil ficar indiferente à história destas crianças, não é? Um abraço (e vou passar a lê-lo também!), Patrícia

Patrícia Fonseca disse...
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Patrícia Fonseca disse...
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Patrícia Fonseca disse...
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