segunda-feira, 28 de abril de 2008

leituras da semana

Já vai sendo um hábito: publicação que se preze tem de idealizar, mais dia menos dia, uma edição verde. Este domingo foi a vez da revista de fim-de-semana do Financial Times publicar o seu environment issue.
Peguei na revista com sérias dúvidas: depois de tudo o que já foi escrito sobre os problemas ambientais que sufocam o nosso planeta, ainda restaria algo de novo para dizer? Fiquei convencida com o tema de capa, dedicado ao plástico. Um texto original, de escrita apurada (e bem humorada) sobre os prós e contras do material que revolucionou as nossas vidas - e graças ao qual não desperdiçamos tantos bens alimentares. É devido às embalagens que tanto tento evitar trazer no saco das compras que só cerca de 3% da comida comercializada se estraga, enquanto na Índia, por exemplo, mais de metade acaba por apodrecer.
Mas a revista publica outros temas interessantes. Como a reportagem na Amazónia, no rancho de um extravagante texano que acredita poder contribuir para salvar a floresta virgem, ou a viagem pelas gélidas paragens do Ártico, onde um grupo de cientistas «congela» sementes de vegetais e cereais de todo o mundo, garantindo uma reserva especial para os humanos que possam necessitar delas daqui a alguns millhares de anos.
Uma boa surpresa, portanto. E que se pode ler online, sem registos ou pagamentos, caso se tenha perdido o jornal de domingo nas bancas...

domingo, 27 de abril de 2008

com quantos livros se faz um escritor?

(Foto: Sandy Huffaker/The New York Times)
Philip M. Parker é «o autor mais publicado do planeta». Este professor de ciências empresariais já escreveu mais de 200 mil livros e só no site da Amazon estão à venda mais de 85 mil títulos da sua autoria. Ou melhor... Passemos a explicar: Parker inventou um sistema informático que agrega informação sobre determinados temas e, com a ajuda de dezenas de computadores e programadores, transforma essas compilações em manuais que têm, em média, uma centena de páginas (uma demonstração do próprio sobre como criar este tipo de livros pode ser vista aqui).
Os seus livros abordam, sobretudo, temáticas da área da ciência e da medicina mas Parker está a trabalhar num programa informático capaz de escrever poesia e romances... Conforme explica em entrevista ao New York Times, já conseguiu que o seu computador buscasse palavras que rimassem umas com as outras, criando mais de 100 mil quadras. E questionado sobre a qualidade desse material, diz que só não se pode comparar a Shakespeare porque ainda não escreveu sonetos...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

madonna, by vanity fair

(Foto: Steven Meisel/Vanity Fair)

O novo disco de Madonna, Hard Candy, estará à venda a partir de 28 de Abril. Descrito como «inspirado» pela revista Rolling Stone, mistura notas de dance pop, hip pop e r&b, foi produzido por Pharrell Williams, Timbaland e Nate Hills e conta com a participação especial de Justin Timberlake. O vídeo do single de lançamento, «4 minutes to save the world», pode ser visto aqui. Mas não era suposto... O YouTube foi «invadido» por gravações pirata, levando até a cantora a gravar uma mensagem especial para os utilizadores.
Madonna, que acaba também de ser distinguida com a integração no Rock and Roll Hall of Fame, ao lado de nomes como o de Elvis Presley, Bob Dylan e David Bowie, completa 50 anos em Agosto e demonstra continuar em forma - não apenas no palco mas também na fabulosa sessão fotográfica publicada este mês na Vanity Fair. Num encontro intimista com o jornalista Rich Cohen (um fã confesso), acabou por falar pouco de música: revela pormenores da sua «saga» para adoptar um menino do Malawi, partilha as suas preocupações com a educação dos filhos, fala da sua nova experiência como realizadora e até da paixão pela cabala. A sua espiritualidade, diz, deu-lhe armas para lidar com o bom e o mau da fama e encontrar a paz que lhe permite manter-se fiel a si própria : «If your joy is derived from what society thinks of you, you’re always going to be disappointed.»

terça-feira, 22 de abril de 2008

El Bulli, o melhor restaurante do mundo (outra vez)

O restaurante El Bulli, do inventivo chef catalão Ferran Adrià, foi distinguido, pela terceira vez consecutiva, como o melhor restaurante do mundo. A eleição dos mais divinos templos gastronómicos do planeta é promovida pela revista britânica Restaurant que, desde 2002, com a colaboração de mais de 700 especialistas e críticos do sector elabora a Lista de S. Pellegrino, unanimemente classificada como um dos mais credíveis indicadores da qualidade do trabalho desenvolvido pelos cozinheiros de topo, a nível mundial.
O restaurante de Adrià, que reinventa constantemente a arte de cozinhar, concebendo novos sabores e texturas (é célebre, por exemplo, o seu café sólido), é um três estrelas Michelin onde a maioria de nós, comuns mortais, nunca conseguirá jantar... Não pelo preço, que poderia ser um inconveniente (cerca de 200 euros por pessoa, para um menu de degustação, sem vinho incluído), mas porque é muito, muito, muito difícil fazer uma reserva. O restaurante só abre de Abril a Setembro - nos outros seis meses Adrià fecha-se no seu laboratório, criando o menu da temporada seguinte -, dá-se ao luxo de fechar às segundas e terças-feiras e só serve 50 pessoas por dia. Em média, há oito mil sortudos por ano a provar as invenções do catalão. Mas o restaurante recebe, no mesmo período, mais de trezentos mil pedidos...

domingo, 20 de abril de 2008

america going green


A Time celebra 85 anos e, no seu site, pede aos leitores que elejam a sua capa favorita de todos os tempos. Não sei se a desta semana ainda irá a votação, mas ficará, sem dúvida, para a história. Para já, porque a direcção abriu uma rara excepção, trocando a cor do seu logotipo e da moldura da capa - por uma boa causa, o vermelho passou a verde. Usando o simbolismo da mítica foto de um grupo de soldados americanos erguendo a bandeira americana em Iwo Jima, na Segunda Guerra mundial, a Time dedica a edição à «próxima grande guerra que todos temos de travar»: contra o aquecimento global.
Os Estados Unidos são responsáveis por um quarto das emissões mundiais de gases com efeito estufa e pouco têm feito para minorar os estragos. Recusaram assinar o Protocolo de Quioto (é certo que muitos dos países que o fizeram não cumpriram o prometido), continuam a glorificar o poder do petróleo e o carro mais popular entre os americanos mantém-se: o uber-poluidor Hummer... Mas o empenho do ex-vice-presidente Al Gore, que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz no ano passado, parece começar a dar frutos. O quase ex-presidente George W. Bush anunciou esta semana uma série de medidas para reduzir as emissões até... 2025. Too little, too late?
De qualquer forma, o seu plano nem deverá chegar a sair da gaveta. Em Novembro haverá um novo senhor (ou senhora) na Casa Branca. E o ambiente, já todos os candidatos perceberam, terá de ser um assunto prioritário. Robert Kennedy Jr., sobrinho de JFK e presidente da associação ambientalista Waterkeeper Alliance, escreve na Vanity Fair deste mês (que também é a sua edição verde do ano), um manifesto sobre o assunto: The Next President First Task.
Mas esta é, também, uma batalha da sociedade civil, que precisa urgentemente de alterar comportamentos: reciclar, usar menos o carro, poupar energia. E quem sabe? Talvez a capa da Time inspire mais americanos a querer travar esta batalha, vital para o futuro de todos nós - como é certo e sabido, eles não gostam de perder nenhuma guerra.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Obrigada!

O Blogkiosk foi eleito «blog da semana» por Pedro Rolo Duarte, no programa Janela Indiscreta, da Antena 1.

um pouco mais de alegria

O fim-de-semana está à porta e, com ele, chegam sempre oportunidades de boas leituras. Ao domingo o El Pais veste-se com as suas melhores reportagens, no suplemento Domingo e, como se não bastasse, arrasa toda a concorrência europeia com uma revista que se lê com verdadeiro prazer, da primeira à última página, a El Pais Semanal (EPS). Ali escrevem alguns dos melhores cronistas dos nossos tempos: Rosa Montero, Maruja Torres, Javier Marías, Almudena Grandes e Javier Cercas, para nomear apenas alguns dos meus preferidos.

Javier Cercas é escritor e professor de literatura espanhola na Universidade de Girona. É sempre surpreendente. Sobretudo no estilo que, arrisco dizer, não seria muito bem recebido nos nossos jornais de referência...

Para quem não leu, deixo-vos um exemplo da última crónica que publicou, falando da alegria de Javier Bardem no momento em que soube que o Óscar era seu, por contraponto à «compustura» de uma certa classe intelectual espanhola (que também poderia ser a nossa). Fica o aviso: contém linguagem, digamos, um pouco invulgar...



Todos ustedes recuerdan la foto, porque hace un mes la acogieron todos los periódicos: de pie en primera fila del teatro Kodak de Los Ángeles, plantado frente a su madre con los puños cerrados y exultante como un hooligan gritando un gol de su equipo, Javier Bardem celebra su Oscar. La foto no contiene nada especial, pero por algún motivo la recorté y la guardé, y durante los días siguientes a su publicación, mientras los periódicos y las radios abundaban en comentarios reticentes al Oscar de Bardem, la miré a menudo. La palabra “reticente” es un eufemismo. Un articulista de Abc escribió estas palabras: “Dar un Oscar a un actor español es como dar triunfador de San Isidro a un torero norteamericano”. El símil ha sido profusamente aplaudido.
La reputación del cine español es pésima. Veo pocas películas españolas, pero también leo pocas novelas españolas, y no me parece que las películas españolas sean inferiores a las novelas españolas; sin embargo, no oigo decir a nadie que la novela española sea una mierda (más bien oigo a menudo decir lo contrario), y en cambio no paro de oír que el cine español es una mierda. Es raro: no conozco ningún novelista español de la primera mitad del siglo XX comparable en calidad (no digamos en reputación internacional) a Luis Buñuel, el tándem Berlanga-Azcona es perfectamente comparable (si no superior) a cualquier novelista español de la segunda mitad del siglo XX, y por supuesto no hay ningún novelista español actual cuyo prestigio e influencia en el mundo puedan compararse a los de Almodóvar. Y está Erice. Y están Penélope, Bardem, Banderas. Y si vamos a los directores de mi quinta, me salen cuatro o cinco nombres cuya calidad y prestigio fuera de España son en conjunto superiores a los de los novelistas de mi quinta. Así que la pésima reputación no puede atribuirse a una calidad pésima o a una falta de reconocimiento internacional. Tampoco, aunque lo parezca, a motivos políticos: los cómicos suman un notorio y ruidoso rojerío, pero eso, que a derecha los demoniza, a izquierda los ensalza, porque los convierte al menos en un buen instrumento electoral.


Se dice que el cine español es un cine subvencionado, y que encima reclama privilegios que lo eximan de competir en pie de igualdad con el cine americano. Lo primero es verdad y es un horror, pero el hecho es que prácticamente todo lo que se hace en España –desde la cría de ganado vacuno hasta la industria del automóvil, pasando por el teatro, la danza o la literatura, por no hablar de los partidos políticos o de la Iglesia católica– recibe directa o indirectamente subvenciones: no veo por qué el cine debería ser una excepción; en cuanto a lo segundo, quien a estas alturas no se haya enterado de que es falso es que no se ha querido enterar: la realidad es que ahora mismo una novela española compite en igualdad de condiciones en las librerías españolas con una novela norteamericana, pero una película española compite en la cartelera española con una película norteamericana en una evidente inferioridad de condiciones. Así que la pésima reputación del cine español no se debe a sus privilegios, ni a motivos políticos, ni a su falta de calidad o de reconocimiento, ni siquiera a la falta de público, que es desde luego muy superior al de otras artes. Entonces a qué.


Vuelvo a mirar la foto de Bardem. Ahí está: triunfal e histriónico. Ha pasado la noche sentado en primera fila del teatro Kodak, junto a Jack Nicholson, rodeado de gente a la que admira y a la que jamás soñó siquiera que podría emular, pensando: “¡Cómo mola mi pistola!”. Cuando un escritor español recibe un premio, no sonríe jamás, jamás se ríe, como si no se alegrara o como si quisiera sugerir con su rictus solemne que posee una intensa vida interior, o que el premio es poco para él, a quien aguarda la vida inmortal; Bardem no: en la foto es todo exterior, todo instante, todo alegría. La miro otra vez: Bardem estuvo la noche anterior en una fiesta con champán y langosta en el Soho House, con Penélope, y ahora está en la fiesta del Kodak, y cuando acabe esta fiesta del Kodak se irá a otra fiesta con champán y langosta y Penélope, joven, rico y feliz, mientras miles de mujeres en el mundo sueñan con él. Y de repente lo comprendo todo, comprendo la reticencia y la pésima reputación y los toreros americanos en San Isidro; de repente comprendo que he sido un idiota: he tardado un mes en comprenderlo. Retiro todo lo escrito. Ahora veo de verdad la foto; mírenla ustedes: ahí tienen a Bardem, viviendo de fiesta en fiesta, como todos los del cine, porque un rodaje –lo sabe cualquiera que haya asistido a alguno– es una fiesta disfrazada: una mera excusa para follar, beber champán y comer langosta. Es verdad que el cine español es una mierda, la novela es mucho mejor, el teatro y la danza y el ganado vacuno y la Iglesia católica son infinitamente mejores; a qué coño viene tanta alegría, qué coño celebra tanto Bardem: un Oscar no es para tanto, Bardem no es para tanto, Buñuel no es para tanto, Azcona-Berlanga no son para tanto, Almodóvar no es para tanto. ¿Quién se ha creído que es esta gente? En realidad no son más que una panda de golfos, chupópteros, sinsustancias, pichalocas y maricones. Que se jodan.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

geração divórcio

(Foto: Frank Sinatra, Divorce Your Loved One With Dignity, Office Photo/Artwork)

No dia em que a Assembleia da República aprovou a nova lei do divórcio, é interessante ler o artigo publicado na edição desta semana da Newsweek sobre «a geração divórcio». Nos Estados Unidos, as separações «sem culpa», à semelhança das que agora passam a ser possíveis no nosso país, foram aprovadas há 40 anos... Precisamente no ano em que nasceu o jornalista David J. Jefferson, que escreve uma reportagem tocante, num registo pouco habitual entre nós, sobre a sua própria experiência, crescendo como filho de pais divorciados.
Jefferson não estava sozinho. Nos anos 70, recorda, a taxa de divórcio atingiu recordes nos EUA e a maioria dos seus colegas de escola também teve de aprender a lidar com a separação dos seus progenitores. Por isso, além de descrever os conflitos da sua infância e juventude, o jornalista decidiu procurar os seus amigos de liceu (a classe de 82), para saber de que forma se sentiram afectados pela desagregação das suas famílias, como convivem hoje, já quarentões, com os seus pais - e como gerem os afectos dos seus próprios casamentos...

agricultura (in)sustentável

Foram precisos quatro anos de trabalho, envolvendo mais de 400 cientistas de todo o mundo, para concluir o relatório apresentado na terça-feira por seis países, apoiados pelo Banco Mundial e pelas Nações Unidas. São 2500 páginas que propõem alterar radicalmente o mercado agrícola mundial e é classificado pelo Guardian como «a primeira tentativa séria, envolvendo governos, organizações não governamentais e as indústrias de países ricos e pobres» para travar a escalada dos preços dos bens alimentares e alcançar uma distribuição mais equatitativa dos recursos disponíveis no planeta. A solução, dizem os autores, passará sobretudo pela ajuda dos países mais desenvolvidos às pequenas comunidades agrícolas do terceiro mundo e pelo investimento, nos países industrializados, em pequenas explorações que respeitem o meio-ambiente.

um governo (muito) rosa

(Foto: EFE)

O novo governo de Espanha tomou ontem posse e, pela primeira vez na história do país, tem mais ministras do que ministros (9 para 8). E não receberam apenas pastas «menores», como nalguns países que querem dar ares de paritários... Maria Fernandez de La Vega mantém-se no cargo de vice-primeira-ministra e a pasta da Defesa foi entregue a Carme Chacón, de 37 anos, que não se deixou intimidar na tradicional revista às tropas - mesmo grávida de sete meses.

domingo, 13 de abril de 2008

O mundo a seus pés

Foto de Muhammed Muheisen, da AP: numa banca de Ramallah, na Cisjordânia, vendem-se fotografias de vários ídolos... Yasser Arafat, Saddam Hussein e... Cristiano Ronaldo!

Telemóveis do outro mundo

(Foto: Shaul Schwarz/Reportage, for The New York Times)

A revista dominical do New York Times publica um artigo muito interessante sobre o uso social dos telemóveis, sobretudo em países e/ou comunidades subdesenvolvidas. Acompanhando o trabalho de Jan Chipchase, um antrópólogo/investigador da Nokia, que tanto pode estar a viver numa aldeia perdida em África como num bairro degradado de um país asiático, observando como os telefones móveis são usados nessas comunidades, a jornalista Sara Corbett explica-nos como os telemóveis estão a moldar o comportamento humano - e como podem contribuir para diminuir a pobreza.
O investigador da Nokia procura perceber que tipo de funcionalidades serão mais valorizadas por estas comunidades - um universo de três mil milhões de clientes que as grandes companhias querem agora conquistar. Em vez de bluetooth ou push mail, estes utilizadores precisam primeiro de um telefone à prova de água ou que possa pendurar-se ao pescoço. Que possa carregar-se sem recurso a energia eléctrica. E que seja, sobretudo, barato.
Por isso, revela Chipchase, um dos grandes projectos da Nokia passa pela concepção de um telefone que custe apenas 5 dólares. Já existem protótipos e, segundo a opinião avalizada das vendedoras de maçarocas do mercado de Buduburam, no Gana, a empresa finlandesa está no bom caminho...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Leituras da Semana II

(Foto: Pascal Maitre/National Geographic)

A National Geographic publica, este mês, uma reportagem invulgar. Só agora tive tempo para me demorar na leitura da viagem impressionante dos seus repórteres pelo Sahel, uma das zonas mais inóspitas do globo, por todas as razões imagináveis: a geografia, o clima, a falta de alimentos, a guerra.
Sahel deriva da palavra árabe «fronteira» e é, de facto, uma zona de divisão que se estende por mais de cinco mil quilómetros, ao longo do norte de África, atravessando o Senegal, a Mauritânia, o Mali, o Burkina Faso, o Níger, a Nigéria, o Chade, o Sudão, a Etiópia, a Eritreia, o Djibouti e a Somália, marcando a transição entre a África negra e a África muçulmana, entre o deserto do Sahara e as florestas e as térreis mais férteis, a Sul (ver vídeo).

O jornalista Paul Salopek e o fotógrafo Pascal Maitre viveram nesta região durante 34 dias. Juntaram-se às tribos nómadas do deserto, pernoitaram em campos de refugiados, navegaram em barcos decrépitos pelo rio Niger, para desaguar na mítica Timbuktu.

Foram raptados por uma das muitas milícias que espalham o terror no Darfur e estiveram presos durante 13 dias, acusados de espionagem. Sobreviveram para contar-nos esta história, de uma fronteira quase desconhecida e inexplorada, num mundo tão duro quanto belo. Bem hajam.

Leituras da Semana

A «desaceleração» económica americana analisada pela Economist, onde se assegura que a recessão já é uma realidade indesmentível e que os americanos terão de preparar-se para um «uma longa e grande ressaca». Os efeitos da crise, é claro, também se farão sentir por cá...
Mais ainda? Pois.

A agenda da ONU

Leio no Guardian que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, informou a China de que não estará presente na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. «Bravo», pensei, afinal ainda há gente com princípios e coragem, neste mundo.
Mas, nas linhas seguintes, confrontei-me, uma vez mais, com a minha desmesurada ingenuidade. Afinal, Ban Ki-moon não vai por «questões de agenda» e até terá prometido, para mais tarde, uma visita alargada e especial ao país...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Partilhar, verbo imperativo do futuro

As Nações Unidas alertaram ontem para o perigo de graves conflitos sociais e políticos devido à escalada dos preços de bens alimentares essenciais. Os cereais encareceram 45% em apenas nove meses e, em vários locais do mundo, falta arroz, trigo e milho. Como lembra o Guardian, estes aumentos levaram a graves manifestações, em Fevereiro, nos Camarões, causando 40 mortos, e foram responsáveis pelos seguintes acontecimentos, só na última semana:

* Confrontos no Haiti, provocando quatro mortos

* Violentos protestos, causando vários feridos, na Costa do Marfim

* Manifestações «quentes» na Mauritânia, Moçambique, Senegal, Uzebequistão, Iémen, Bolívia e Indonésia

O director do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas apelou hoje, em Roma, à ajuda dos países industrializados. Que tantos excedentes destroem quando ainda tantos seres humanos morrem à fome...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ponto final?

( Foto: Mário Testino)

Onze anos depois, o veredicto final: Diana foi vítima de homicídio por negligência. O júri convocado pelo tribunal de Londres considerou culpados todos os condutores dos veículos envolvidos na acidente do túnel da Alma, em Paris - paparazzi incluídos. O Guardian preparou um dossier especial de acompanhamento do caso. As teorias da conspiração (agora definitivamente enterradas?) também merecem grande destaque, contando com a colaboração activa de muitos leitores.

Prémios Pulitzer

O Washington Post foi o jornal mais premiado na edição de 2008 dos Prémios Pulitzer, vencendo todas as principais categorias, incluindo as de Reportagem Nacional e Reportagem Internacional, bem como a de Serviço Público, por um conjunto de reportagens sobre as más condições no hospital militar Walter Reed. O trabalho, das jornalistas Dana Priest e Anne Hull e do fotógrafo Michel du Cille desencadeou uma série de reformas no tratamento e acompanhamento médico dos veteranos de guerra.

domingo, 6 de abril de 2008

Por Ingrid

(Foto: AP)

Milhares de pessoas manifestaram-se hoje, no centro de Paris, exigindo a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt, sequestrada há seis anos pelas FARC. O Libèration acompanhou as manifestações lideradas pelo filho da ex-candidata presidencial e a que não faltaram o ministro dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e a nouvel primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkosy.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Agenda

Sábado, 5 de Abril, às 16 horas, todos à conferência, de entrada livre, que o júri da 8ª edição do Prémio de Fotojornalismo VISÃO/BES dará no Museu da Electricidade. Com Jean-François Leroy, Susan Smith, Yuri Kozyrev, Noël Quidu e Philip Blenkinsop.

O sonho ainda por cumprir

(Foto: Mike Segar/Reuters)

Quarenta anos depois do assassinato de Martin Luther King, milhares de pessoas participaram hoje numa marcha em sua honra, em Memphis, Tennessee. O New York Times está a acompanhar as cerimónias de hoje, que se multiplicam um pouco por todo o país.

W, by Oliver Stone

«How did Bush go from being an alcoholic bum to the most powerful figure in the world?»
Esta é a pergunta a que Oliver Stone quer dar resposta no seu próximo filme, intitulado W.
Sim, leram bem, W. De George W. Bush. Depois de Nixon e JFK, Oliver Stone promete traçar um retrato honesto do homem mais poderoso do mundo. Teme-se o pior...
As gravações ainda nem começaram, conta o Guardian, mas o realizador quer estrear antes das próximas eleições norte-americanas, que se realizam em Novembro.

à margem das notícias...

Parabéns a todos os premiados mas, sobretudo, ao grande vencedor do 8º Prémio de Fotojornalismo VISÃO/BES: Augusto Brázio. O freelancer, agenciado pela Kameraphoto, convenceu o júri com a imagem de uma mulher de 19 anos cujo terceiro filho acabava de nascer em casa e necessitou de assistência do INEM. Veja todas as fotos vencedoras aqui.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

SOS Ingrid

Ingrid Betancourt é refém das FARC há mais de seis anos. Mas a sua libertação poderá estar iminente.
O seu estado de saúde é, segundo informações do governo francês, muito débil: estará com malária, hepatite B e leishmaniose. A candidata à Presidência da Colômbia terá também iniciado uma greve de fome, aumentando a pressão sobre os seus raptores - de que lhes servirá morta?
O presidente francês, Nicolas Sarkosy, enviou ontem um avião para a região, apelando à colaboração do comandante da guerrilha colombiana: «Ingrid está em perigo de morrer a qualquer momento. Já não tem forças para resistir a um cativeiro interminável.» Os pormenores desta operação diplomática francesa, que conta com o apoio de Espanha e da Suíça, fazem a manchete de hoje do Libération.
Há poucas horas foi a vez do filho de Ingrid, Lorenzo Delloye, pedir a libertação da mãe. Numa conferência de imprensa, em Paris, enviou uma mensagem para Manuel Marulanda, visivelmente emocionado: «O mundo tem os olhos postos em si. Está nas suas mãos decidir se quer ficar conhecido na História como um criminoso de guerra - ou como um Homem.»

terça-feira, 1 de abril de 2008

Dia das Mentiras


A agência Lusa foi à procura das tradicionais mentiras publicadas nos jornais internacionais:


O diário britânico The Guardian escreveu que o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, quereria aproveitar a "Carlamania" surgida no Reino Unido para que a primeira-dama francesa, Carla Bruni, se instalasse em Londres para ajudar a melhorar o estilo dos britânicos.
Segundo o The Guardian, Brown teria afirmado que o seu país sofreu durante muito tempo de um complexo de inferioridade em relação a outros países europeus, como França ou Itália.
De acordo com o tablóide britânico The Sun, foi também o sentimento de inferioridade, mas física, que levaria o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a querer submeter-se a várias intervenções médicas para alongar os ossos, a fim de ficar mais alto que a sua mulher, a ex-modelo e cantora Carla Bruni.
Já na Suiça, onde, juntamente com a Áustria, se celebra no próximo mês de Junho o Euro 2008, o motivo das "partidas" do 01 de Abril foram dirigidas aos apaixonados do futebol.
Brincando com o orgulho patriótico de um dos países que vai acolher este acontecimento, a Rádio Suisse Romande lançou hoje a "notícia" de que teriam sido detectadas várias falhas no Estádio de Genebra, que deverá receber vários jogos do Euro 2008, e que por isso seriam suspensos esses mesmos jogos, os quais se celebrariam num outro estádio da vizinha França.
Além disso, o diário St. Galler Tagblatt brincou hoje com as fracas hipóteses da selecção da Suiça ganhar, ao "noticiar" que se criaria um grupo de apoio psicológico para os adeptos da equipa suíça.
Em Itália, onde o futebol é intocável, decidiram divertir-se com outro pilar fundamental da sua cultura, a arquitectura. No "site" da e-bay figurava hoje o seguinte anúncio: "Vende-se ponte original de arquitecto famoso sobre o Grande Canal de Veneza, devido à sua falta de uso. Estrutura de aço e cristal. Está nova mas falta-lhe a certificação".
A ponte em questão é a que Santiago Calatrava está a construir nessa cidade italiana e o seu preço inicial era de 155 dólares (cerca de 99 euros). Horas depois havia alcançado os 118 mil dólares (aproximadamente 76 mil euros). As despesas de envio seriam grátis.
Em Verona, no norte de Itália, foi colocado um cartaz, no qual se podia ler "Vende-se", na varanda onde Julieta encontrava o seu amado Romeu, um dos locais mais visitados da cidade.
O cartaz, supostamente de uma agência imobiliária e com a frase escrita em inglês e alemão, deixou os turistas e alguns habitantes da cidade boquiabertos, até que se terem dado conta de que se tratava de uma "partida" do Dia das Mentiras.
Outra construção que correria perigo seria a muralha do Kremlin, na Rússia, pois, de acordo com a "notícia" de hoje do diário Moskovski Komsomólets, iria ser pintada de branco, para ajustar a sua cor "tal como se fez da última vez em 1913".
Em Sidney (Austrália), aproveitaram o 1 de Abril para dar uma boa notícia aos mais avarentos: a companhia aérea Virgin Blue criou vários anúncios nos quais apresentava tarifas mais baratas para os clientes que aceitassem viajar de pé, sendo que pagariam apenas a metade do valor do bilhete. Também na Austrália, a emissora de rádio 2UE assegurou que o Papa iria celebrar uma missa pelos homossexuais aquando da sua vista a este país, em Julho.
E, durante alguns segundos, os libaneses acreditaram que a crise política que assola o país estaria resolvida, quando um anúncio colocado em vários jornais comunicava a eleição de um Chefe de Estado...