segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Gaza, dia 3

Uma família foge dos bombardeamentos em Rafah, na Faixa de Gaza
Foto: Hatem Omar/AP

Terceiro dia de guerra em Gaza. Como hoje escreve Robert Fisk no Independent, o ódio anda há tantos anos à solta no Médio Oriente que escrever sobre o assunto se assemelha cada vez mais à história da galinha e do ovo:

Yes, Hamas provoked Israel's anger, just as Israel provoked Hamas's anger, which was provoked by Israel, which was provoked by Hamas, which ... See what I mean? Hamas fires rockets at Israel, Israel bombs Hamas, Hamas fires more rockets and Israel bombs again and ... Got it?

Got it.

Entretanto, e como bem questiona Fisk, onde anda Tony Blair, o enviado do Quarteto para a Paz no Médio Oriente? Parece que nunca pôs os pés em Gaza (em 3 anos!) e, nos últimos dias, foge de jornalistas como o diabo da cruz...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Uma nova Intifada?

Os bombardeamentos da aviação israelita prosseguiram hoje em Gaza. Desde sexta-feira terão morrido mais de 300 pessoas. Esta incursão militar, ainda sem fim à vista, é já a mais sangrenta na região desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Segundo o Jerusalem Post, o governo israelita convocou hoje mais 4 500 reservistas para se juntarem às tropas estacionadas na fronteira com Gaza, indicando que uma incursão terrestre para «esmagar» o Hamas poderá avançar nos próximos dias.
Segundo o New York Times, Khaled Meshal, o líder do Hamas exilado na Síria, apelou ao início de uma nova Intifada, com ataques suicidas no coração de Israel.

sábado, 27 de dezembro de 2008

mísseis sobre Gaza

(Foto: Suhaib Salem/Reuters)
Israel lançou hoje um ataque aéreo sobre Gaza. Segundo o Guardian, os 30 mísseis lançados provocaram pelo menos 140 mortos e 250 feridos. O Hamas já jurou vingança: «Vamos continuar a resistir até à nossa última gota de sangue», disse o porta-voz do movimento fundamentalista a uma estação de rádio local.
O ataque de Israel acontece depois de dias de especulação na imprensa internacional sobre a possibilidade de uma grande ofensiva terrestre e uma semana depois do Hamas ter decretado o fim do cessar-fogo que vigorava na região há seis meses.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

boas festas

(Alemanha) Fröhliche Weihnachten und ein glückliches Neues Jahr (Bélgica) Zalige Kertfeest (Bulgária) Tchestita Koleda i Shtastliva Nova Godina (Egipto) Colo sana wintom tiebeen (Espanha) Feliz Navidad y Prospero Ano Nuevo (Esperanto) Gajan Kristnaskon & Bonan Novjaron (Finlândia) Hauskaa Joulua (França) Joyeux Noël et Bonne Année (Grécia) Kala Christougenna Ki'eftihismenos O Kenourios Chronos (Inglês) Merry Christmas and Happy New Year (Iraque) Idah Saidan Wa Sanah Jadidah (Israel) Mo'adim Lesimkha (Itália) Buon Natale e Felice Anno Nuovo (Japão) Shinnen omedeto Kurisumasu Omedeto (Latim) Pax hominibus bonae voluntatis (Noruega) Gledelig Jul (Polónia) Wesołych Świąt Bożego Narodzenia i szczęśliwego Nowego Roku (Portugal) Bom Natal e Feliz Ano Novo! (Rússia) Pozdrevlyayu s prazdnikom Rozhdestva i s Novim Godom (Suécia) God Jul och Gott Nytt År (Turquia) Noeliniz Ve Yeni Yiliniz Kutlu Olsun...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dispatches















É uma das melhores notícias de 2008 para quem gosta de bom jornalismo: o lançamento da revista Dispatches, imaginada pelo fotojornalista e fundador da agência VII Gary Knight e pelo jornalista e ex-director do Internacional Herald Tribune Mort Rosenblum, com o apoio financeiro do farmacêutico Simba Gill.
As suas capas simples, em papel pardo, recordam-nos que é no interior que está o essencial: os grandes ensaios fotográficos dos melhores fotógrafos da actualidade, os longos textos dos repórteres que vivem meses a fio mergulhados nos mundos que ali se revelam.
O primeiro número foi dedicado à América, em vésperas de eleições presidenciais. A segunda edição desta revista trimestral tem o Iraque como tema central.
A Dispatches nasce numa altura em que a imprensa vive uma das maiores crises da sua história mas os seus fundadores acreditam que a pior crise não é a financeira, mas a de conteúdos. Falta seriedade, profundidade, rasgo e criatividade no jornalismo dos nossos dias, sem dúvida. A Dispatches acredita que existem leitores ávidos por histórias bem contadas, saturados de informação superficial e descontextualizada, que anseiam por artigos que os façam reflectir sobre o mundo, saber mais sobre o mundo e, até, mudar a sua posição em relação ao mundo.
Os seus fundadores não têm grandes grupos editoriais a apoiá-los e, imagine-se, nem sequer procuram publicidade - a revista, com mais de 200 páginas, não terá anúncios. O preço de capa é de 15 dólares e, caso consigam 10 mil assinantes, dizem que a publicação tem o futuro assegurado (uma assinatura anual para Portugal custa 52€) . O lucro, claro, não é o que motiva esta malta: «Não somos missionários ou Dom Quixotes, somos jornalistas - tipos com consciência que querem fazer alguma coisa.»

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ainda os sapatos e Bush...

Em tempo de crise, o Guardian dá a notícia de que uma empresa de calçado turca contratou mais 100 funcionários, para conseguir responder às encomendas... Não é uma empresa qualquer, claro. Só a Baydan Shoe Company vende sapatos iguaizinhos aos que o jornalista iraquiano Muntazar al-Zaidi atirou ao Presidente Bush.
O dono da empresa, Ramazan Baydan, não cabe em si de contente e já prometeu calçar o jornalista de borla até ao fim dos seus dias. Irá também rebaptizar aquele vulgar modelo 271 mas ainda está indeciso: deverá chamar-lhe "Bush Shoe" ou"Bye-Bye Bush"?

domingo, 21 de dezembro de 2008

10 notícias que passaram despercebidas

Na edição espanhola da Foreign Policy, 10 notícias que passaram despercebidas em 2008: da construção de um escudo anti-mísseis na Índia, com o apoio norte-americano, ao aumento da produção de cocaína na Colômbia ou a crise em Kordofán, «o novo Darfur» de quem ninguém fala.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Time elege Obama

Tal como se esperava, Barack Obama é a Personalidade do Ano da revista Time. Esta é a capa da revista que estará à venda nas bancas, a partir de amanhã: reproduz a obra do street artist Frank Shepard Fairey, um skater que viu a sua criação saltar da internet para milhões de t-shirts, cartazes, autocolantes e panfletos, durante a campanha presidencial. O cartaz que desenhou originalmente, intitulado HOPE, já tinha sido escolhido pelo mayor de Chicago para os banners que encheram a cidade, celebrando a vitória de Obama. Com a escolha da Time, a obra de Fairey conquista, em definitivo, o estatuto de imagem-ícone da campanha presidencial de 2008.

diz que é uma espécie de balanço do ano

É sempre assim no fim do ano: balanços e mais balanços. Mas a Time, que se prepara para anunciar a Personalidade de 2008 (como se ainda houvesse espaço para algum suspense...), surpreende esta semana com um número com 50 diferentes top 10 do ano. Estão lá as 10 maiores gaffes políticas, as 10 melhores ideias ecológicas, as 10 melhores fotografias, músicas, livros, filmes, séries de televisão, gadgets... e até as melhores capas de revista do ano. Eu fico dividida entre a New Yorker e a Rolling Stone... confesso que só me apetecia pendurá-las na parede de casa quando as comprei. Depois passou-me, claro.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

economia subterrânea

Um palestiniano passa uma vitela por um túnel clandestino,
na fronteira entre Gaza e o Egipto. Foto: Reuters

O posto fronteiriço de Rafah, que separa a Faixa de Gaza do Egipto, está quase sempre fechado, por imposição de Israel. As trocas comerciais tornam-se impossíveis, piorando o inferno da vida quotidiana em Gaza, que há muito se transformou numa enorme prisão a céu aberto.
Mas os palestinianos começaram a escavar túneis clandestinos, conseguindo ir ao Egipto comprar os bens essenciais que escasseiam na Faixa de Gaza, uma das regiões mais pobres do mundo. Segundo conta o El Pais, existem já mais de 1500 túneis deste género.
A segurança destas passagens secretas é mínima e os desabamentos são constantes. Este ano terão morrido soterradas cerca de 60 pessoas.
Um comerciante conta que escavar uma passagem destas demora 30 a 40 dias e custa perto de 50 mil euros. Os palestinianos «donos» dos túneis pagam ainda uma taxa de 2 000 euros ao Hamas, que governa a região. Mas o investimento compensa - há milhares de pessoas desesperadas por um pacote de farinha, uma garrafa de óleo, um litro de gasolina.

jornalista atira sapatos a Bush...

Um jornalista da televisão Al Baghdadia atirou os seus sapatos a George W. Bush durante uma conferência de imprensa, no final da visita surpresa que o Presidente dos EUA hoje fez à capital iraquiana. Atirar os sapatos é, na cultura árabe, um grande insulto.

«Vai-te embora, cão» terão sido as primeiras palavras do jornalista, quando ainda descalçava o segundo sapato... Bush ficou incomodado com o incidente mas, ao ser questionado pelos jornalistas, tentou ter piada: «Tudo o que vos posso dizer sobre os sapatos é que eram do tamanho 10».

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

da buraka para o mundo

Os Buraka Som Sistema captaram, definitivamente, a atenção da imprensa internacional. O «kuduro progressivo» da banda luso-angolana, nascida na Buraca, Amadora, merece hoje nota máxima no blogue Radar, do jornal espanhol El Mundo: «se há um som que defina o gueto, hoje em dia, tem de ser muito parecido com isto.» A propósito do lançamento do novo álbum, Black Diamond, também o britânico The Independent destacou o trabalho do grupo, na semana passada: «ao ouvi-los, só vai querer despir-se e dançar.»

domingo, 7 de dezembro de 2008

prece de domingo

O fotógrafo espanhol José Cendón e o jornalista britânico Collin Freeman continuam desaparecidos. Foram raptados a 27 de Novembro, na Somália, quando realizavam uma reportagem para o Daily Telegraph sobre os grupos de piratas que espalham o terror naquele país. Como escreve hoje Enric González no El Pais, o mundo habitou-se a não questionar o que tem à sua frente (seja no prato ou no jornal...) e esquece facilmente «o processo»: o que foi preciso para eu receber isto desta forma? Que caminhos, que desvios, que riscos, que escolhas foram feitas?
É por isso que hoje aqui deixo esta fotografia de José Cendón, captada num hospital psiquiátrico do Burundi (Prémio World Press Photo em 2006), em jeito de homenagem aos mais de 1 200 jornalistas que morreram em reportagem, na última década. Mas também em jeito de prece: que voltem a casa depressa, sãos e salvos, para nos continuarem a contar o que se passa, de facto, no mundo.

a mais bela utopia


«Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.»

Celebra-se a 10 de Dezembro o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O assunto merece destaque na revista de domingo do El Pais, que analisa os 30 artigos à luz das injustiças que ainda minam o nosso mundo... e os nossos sonhos.