Há dias assim. Especiais. Hoje deixei a minha escrita de lado e fui ouvir os mestres. Inscrevi-me num seminário de jornalismo literário sobretudo pela vontade de ouvir Mark Kramer, jornalista e professor na universidade de Harvard. Mas foi
Sukemu Mehta que me enfeitiçou. Fiquei duas horas (que me pareceram dez minutos) a ouvi-lo contar histórias. Ou melhor: a sua história, que é também a história do livro
Maximum City: Bombay Lost and Found.
Sukemu nasceu em Calcutá, cresceu em Bombaim e aos 14 anos emigrou com a família para Nova Iorque. Na viragem do milénio decidiu regressar à Índia, à cidade da sua infância e adolescência, que não visitava desde 1977. Queria perceber se poderia voltar a viver em Bombaim. Conseguiu durante dois anos e meio. Dessa experiência resultou este livro, uma espécie de psicanálise da cidade que, a cada ano que passa, ganha mais um milhão de habitantes.
Sukemu não se limitou a escrever sobre a sua vida nesta mega-cidade: entrevistou os líderes dos dois gangues que dominam o território (um hindu, outro muçulmano), assassinos a soldo e polícias que, achando-se honestos, torturavam e executavam criminosos.... e, claro está, estrelas de Bollywood.
Os direitos deste livro-reportagem, vencedor do prémio «Primeira Obra» do Guardian e finalista dos Prémios Pulitzer, acabam de ser comprados por Danny Boyle (Slumdog Millionaire), para adaptação ao cinema. Deixo-vos um excerto:
«There will soon be more people living in the city of Bombay than on the continent of Australia. Urbs Prima in Indis reads the plaque outside the Gateway of India. It is also the Urbs Prima in Mundis, at least in one area, the first test of the vitality of a city: the number of people living in it. With 19 million people, Bombay is the biggest city on the planet of a race of city dwellers. Bombay is the future of urban civilization on the planet. God help us.
(...)
Each person’s life is dominated by a central event, which shapes and distorts everything that comes after it and, in retrospect, everything that came before. For me, it was going to live in America at the age of fourteen. It’s a difficult age at which to change countries. You haven’t quite finished growing up where you were and you’re never well in your skin in the one you’re moving to. I had absolutely no idea about the country America. (...) I traveled, in twenty-four hours, between childhood and adulthood, between innocence and knowledge, between predestination and chaos.
Everything that has happened since, every minute and monstrous act—the way I use a fork, the way I make love, my choice of a profession and a wife—has been shaped by that central event, that fulcrum of time.»