Osel Hita Torres tinha apenas 14 meses quando um grupo de monges budistas tibetanos bateu à porta dos seus pais, em Granada, Espanha, anunciando-lhes que o seu filho era a reencarnação do venerável Lama Yeshe. A família voou para Dharamsala, na Índia, onde o exilado Dalai Lama o reconheceu e renomeou como
Lama Tenzin Osel Rimpoché. Os pais regressaram a Espanha e o menino foi criado num mosteiro de clausura, nos Himalaias. Contudo, aos 18 anos despiu as vestes cor de açafrão e virou costas ao destino que nunca quis.
Em entrevista ao El Mundo, o rapaz, hoje com 24 anos, diz que sofreu muito no mosteiro, onde imperam «leis medievais», e que não acredita ser, na verdade, a «divindade» que mais de 5 000 monges sentavam num trono e adoravam.
Osel tem agora 24 anos, estuda realização de cinema em Madrid e quer ser apenas um «tipo normal»: que vai a discotecas, que tem namoradas, que leva porrada nas manifestações contra a guerra. Que «normalidade» pode haver num homem cujas brincadeiras de criança foram o estudo da religião e da filosofia e que teve, em vez dos carinhos de uma mãe, a idolatração de milhares de pessoas? Só ele poderá encontrar a resposta.
A entrevista tem momentos fascinantes, como quando fala da sua impossibilidade de cumprir a missão de passar ao mundo «a verdade»:
«Não podes dizer a ninguém 'Esta é a verdade, toma', porque nunca será a sua verdade, apenas a tua. Cada um deve buscar dentro de si o caminho porque quando mais procuras fora de ti mas te afastas do teu ser.»
Ou quando a jornalista Ana Maria Ortiz lhe pergunta se mantém a crença budista:
«Não. Sou um agnóstico científico espiritual. Acredito na consciência e nas vidas passadas e futuras. Para mim a vida não termina quando se morre, não teria sentido. O cérebro não pode ser a única coisa que nos mantém vivos. Também há a alma, a consciência, o ser, que é eterno.»