quarta-feira, 17 de junho de 2009

pausa informativa

Este kiosk vai encerrar para férias... e férias, desculpem, não são a mesma coisa com telemóveis ligados e acessos à Internet. Nas próximas semanas vou estar entregue às leituras em papel, às conversas cara a cara, aos mergulhos nas praias de água turquesa do Mediterrâneo.
Voltarei em breve, espero que voltem também. Até lá, boas leituras!

Revolta no Irão

Os telemóveis não funcionam, a Internet está «cortada», os jornalistas internacionais (os poucos que lá conseguiram entrar...), proibidos de cobrir qualquer assunto que não conste do programa definido pelo «Ministério da Cultura e Orientação Islâmica». Mas lá vão conseguindo romper as barreiras da censura e contar-nos que os iranianos estão na rua. Hoje milhares de pessoas voltaram a estar divididas, nas ruas de Teerão, em duas grandes manifestações. De um lado, os apoiantes do presidente (reeleito) Mahmoud Ahmadinejad; do outro, os defensores do (derrotado) reformista Mir-Hossein Mousavi. E voltaram a envolver-se em confrontos com a polícia havendo registo de, pelo menos, oito mortos.
Sobretudo porque a informação é escassa e a realidade é complexa, importa ler com atenção a cobertura da correspondente do El País no Irão, Angeles Espinosa, que ali vive há vários anos. Destaco apenas o texto de hoje, Um País Partido em Dois. Mas sigam diariamente as pistas da sua página especial no site do diário espanhol. Também a excelência deste jornalismo está, nos dias que correm, ameaçado de extinção.

sábado, 13 de junho de 2009

contas estragadas...


Os números revelados esta semana pela Economist não são animadores... Tentando ultrapassar a crise financeira, os Estados endividiram-se a um ritmo alucinante no último ano e, segundo dados do FMI, em 2014 os dez países mais ricos do mundo terão uma taxa de endividamento de 114%, contra os 78% de 2007. Um dívida que representa qualquer coisa como 50 mil euros por cada cidadão... e sim, seremos nós a pagar cada tostão.
Vêm aí mais impostos, o adiamento da idade da reforma e pensões mais baixas. O futuro, escreve a revista norte-americana, é ainda mais «grey» devido ao envelhecimento da população. Em 2050, um terço da população das nações mais ricas terá mais de 60 anos - e os custos desta crise demográfica serão dez vezes mais pesados que os da actual crise mundial. Mas quem sabe se não é desta que os governos acordam para o problema do envelhecimento e da baixa natalidade no mundo ocidental...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

leitura da semana


Na Time desta semana, um texto muito interessante sobre «a forma como o Twitter vai mudar o nosso mundo». Ou, pelo menos, como já está a mudar a nossa forma de comunicar, condensando a vida em mensagens de 140 caracteres...

domingo, 7 de junho de 2009

A «coisa» Berlusconi

O primeiro-ministro Silvio Berlusconi utilizava aviões da Força Aérea italiana para levar os seus amigos a passar fins-de-semana na sua mansão da Sardenha. Será apenas mais um dos muitos abusos do primeiro-ministro italiano mas a verdade é que nenhum jornal do país investigou o assunto e foi o fotógrafo freelancer Antonello Zappadu que decidiu, desde 2007, investir o seu tempo na vigilância do que se passava na casa particular do político. E foi um jornal espanhol, o El Pais, que publicou parte desse trabalho - em Itália, o tema foi censurado e, por ordem do governo, mais de 300 fotos do jornalista foram apreendidas, quando este tentou vendê-las à revista italiana Panorama (de que Berlusconi também é proprietário...)

O primeiro-ministro já anunciou que vai processar o El Pais por invasão de privacidade. Pode ser discutível se as fotografias de apresentadoras de televisão, bailarinas e outras jovens em topless à volta da piscina de Berlusconi têm interesse público. Pode ser censurável a publicação de uma imagem onde se reconhece o ex-ministro checo Mirek Topolanek - está nu e, digamos, excitado com a paisagem circundante. Mas parece-me inegável o interesse da denúncia da utilização de dinheiros públicos italianos para a realização destas festas.

José Saramago, que viu os seus «Cadernos» recentemente censurados em Itália, pelo mesmo Berlusconi, partilha essa opinião. No El Pais de ontem escreve um artigo que, só pelo título, já seria arrasador: «A coisa Berlusconi»:

«Uma coisa perigosamente parecida com um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália.»

«Esta coisa, esta enfermidade, este vírus ameaça ser a morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não o conseguir arrancar da consciência dos italianos, antes que o veneno acabe corroendo as veias e acabe destroçando o coração de uma das mais ricas culturas europeias.»

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Lama que quer ser realizador de cinema

Osel Hita Torres tinha apenas 14 meses quando um grupo de monges budistas tibetanos bateu à porta dos seus pais, em Granada, Espanha, anunciando-lhes que o seu filho era a reencarnação do venerável Lama Yeshe. A família voou para Dharamsala, na Índia, onde o exilado Dalai Lama o reconheceu e renomeou como Lama Tenzin Osel Rimpoché. Os pais regressaram a Espanha e o menino foi criado num mosteiro de clausura, nos Himalaias. Contudo, aos 18 anos despiu as vestes cor de açafrão e virou costas ao destino que nunca quis.
Em entrevista ao El Mundo, o rapaz, hoje com 24 anos, diz que sofreu muito no mosteiro, onde imperam «leis medievais», e que não acredita ser, na verdade, a «divindade» que mais de 5 000 monges sentavam num trono e adoravam.
Osel tem agora 24 anos, estuda realização de cinema em Madrid e quer ser apenas um «tipo normal»: que vai a discotecas, que tem namoradas, que leva porrada nas manifestações contra a guerra. Que «normalidade» pode haver num homem cujas brincadeiras de criança foram o estudo da religião e da filosofia e que teve, em vez dos carinhos de uma mãe, a idolatração de milhares de pessoas? Só ele poderá encontrar a resposta.
A entrevista tem momentos fascinantes, como quando fala da sua impossibilidade de cumprir a missão de passar ao mundo «a verdade»:
«Não podes dizer a ninguém 'Esta é a verdade, toma', porque nunca será a sua verdade, apenas a tua. Cada um deve buscar dentro de si o caminho porque quando mais procuras fora de ti mas te afastas do teu ser.»
Ou quando a jornalista Ana Maria Ortiz lhe pergunta se mantém a crença budista:
«Não. Sou um agnóstico científico espiritual. Acredito na consciência e nas vidas passadas e futuras. Para mim a vida não termina quando se morre, não teria sentido. O cérebro não pode ser a única coisa que nos mantém vivos. Também há a alma, a consciência, o ser, que é eterno.»