segunda-feira, 30 de maio de 2011

Leitura da semana


A revista Piauí continua a publicar alguns dos melhores textos do chamado jornalismo literário e é uma delícia descobri-los, com este saborzinho tropical, todos os meses. Foi o meu amigo (e também jornalista) Ricardo Rodrigues quem me chamou a atenção para esta fabulosa prosa (Baraquio Bama vale nota 10, na edição de Maio), comentando: «Há qualquer coisa de contraditório quando se lê uma narrativa notável sobre os que não sabem ler.»
Vale mesmo a pena, garanto-vos.
Em jeito de aperitivo, aqui fica um excerto:

"O subchefe Antônio Bonfim Ferreira, um baixinho branquelo muito musculoso, destacou a papeleta curva da impressora. “Xis... xis é peixe. Nando, vê pra mim aqui se é gurjão ou filé.” O auxiliar Nando, sem muita paciência, leu: “Prato feito de filé de peixe.”

Cozinheiro há mais de quinze anos, Antônio Bonfim enfrenta diariamente um adversário desigual: a automatização das comandas, introduzida no Garota em 2007. Até então os garçons iam à cozinha e cantavam os pedidos em alto e bom som. Hoje, digitam o código do pedido numa registradora manual do próprio salão do restaurante e o nome do prato sai escrito na impressora cinza-clara instalada na cozinha.
Para saber do que se trata, é preciso lê-lo. Mas Bonfim é analfabeto e boa parte de seus colegas só descobriu que ele não sabia ler com a chegada da novidade.
(...)
Muito antes da maquininha, Antônio Bonfim já vem tentando “abrir a mente”. No seu primeiro ano de Rio, em 1988, tentou um ano de “Mobral”,como continua a se chamar o programa federal que sucedeu a campanha de alfabetização dos militares. Sem sucesso. Foi a sobrinha quem conseguiu treiná-lo para assinar documentos. “O problema é que cada vez saía de um jeito”, disse.

Em 2004, já com 33 anos de idade, casado e com duas filhas pequenas para sustentar, soube pela esposa Lucivânia da abertura de um curso de alfabetização na Associação de Moradores de seu bairro. Ela também é analfabeta, apenas não se aflige em aprender a ler. Bonfim frequenta o curso até hoje. Treinou com afinco a padronização de sua assinatura e conseguiu renovar todos os documentos. “Inclusive o título de eleitor. Votei na Dilma duas vezes, uma seguidinha da outra. E a urna é fácil, é que nem um telefone”, contou. “Eu achei ela bonita, simpática. Mesmo quando falaram que ela era sapatona, eu nem quis saber.”
Ainda assim, em sete anos de aulas noturnas, cinco vezes por semana, não consegue distinguir a palavra “gurjão” de “filé”. “Parece que a minha cabeça está fechada. Talvez seja porque eu caí muitas vezes do jegue quando era pequeno.”

domingo, 22 de maio de 2011

#spanishrevolution


A luta continua. Pelo menos por mais uma semana. Foi essa a promessa deixada hoje pelos manifestantes acampandos na Puerta del Sol, no centro de Madrid. Durante a semana que passou, desde esse já histórico 15 de Maio (15-M), um jornalista do El País juntou-se a esta «geração à rasca» e publica hoje, no suplemento Domingo, uma grande reportagem sobre este movimento que está a sacudir o sistema:

Jon Aguirre Such abrazaba con los dientes apretados. No podía contener la emoción, la rabia acumulada, la indignación compartida. Estaba viviendo un sueño. Un sueño que se ha hecho realidad. El sueño de muchos. (...) "Casi me pongo a llorar. Veía a todo el mundo con cara de ilusión: '¡Es posible!". Jon cuenta su historia con orgullo, con pasión: "Acabamos de escribir Historia. No hay marcha atrás".

"Se ha producido una desestructuración muy acelerada de la sociedad", sostiene Miguel Martínez, sociólogo experto en movimientos sociales, profesor de la Universidad Complutense e investigador Ramón y Cajal. "La precariedad ha emanado de las élites políticas, han ido apretando las tuercas cada día más. Los gobiernos han llevado a cabo políticas muy agresivas para la mayoría de la población. El panorama es muy triste. Tenía que surgir una válvula de escape. La gente siente que su vida se volatiliza. Cuando llega la indignación, ya no pueden ir más allá, porque te hacen desaparecer como persona. Si pierdes la dignidad ya solo eres mano de obra".

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Luta na Eurovisão... e no Guardian


Os Homens da Luta já estão na Alemanha para representarem Portugal no Eurofestival da Canção e não páram de dar entrevistas para todo o mundo, depois de terem conquistado os jornalistas com uma conferência de imprensa «fora do baralho» e muito musical... O Guardian também ficou intrigado com estes músicos/comediantes e publicou um artigo da jornalista portuguesa Susana Moreira Marques, onde se explica não só o fenómeno mas se apela também ao voto nos concorrentes portugueses...

"Do you feel like leaving Europe when another Eurovision song contest is about to start? Are you feeling less than inspired by this year's British entry (...)? Well, from 10 to 14 May this year you can make a difference. Vote for Portugal at next Eurovision.
Portugal's entry, Homens da Luta, are a comic duo posing as 1970s political activists. They look like Latin American revolutionaries – complete with hats and moustaches, though less tanned – and refer to themselves as "professionals of the struggle".
(...) Their song, A Luta é Alegria, about taking to the streets and shouting with joy, is silly and ironic, and yet does seem to work: in Portugal, at least, it has become the soundtrack of people taking to the streets."