Como sabem todos os que acompanham este blog, raramente uso este espaço para falar de mim ou do meu trabalho. Mas, sobretudo depois
desta notícia na Visão, e de outras na imprensa nacional, sinto que devo abrir uma excepção para partilhar convosco a felicidade de ter sido uma das dez jornalistas seleccionadas pelo júri dos Prémios Bayeux-Calvados para Correspondentes de Guerra.
Na quinta-feira passada viajei para Bayeux, na Normandia (a primeira cidade libertada na Segunda Guerra Mundial, na sequência do Dia D) para me juntar a dezenas de jornalistas de todo o mundo - repórteres do Times, do Figaro, da BBC, do El País, os melhores nesta difícil missão de reportar o que se passa em zonas de conflito.
A «julgar» os trabalhos, durante dois dias, esteve reunido um júri de luxo, presidido pelo fotojornalista Patrick Chauvel e composto por 50 profissionais do New York Times, Independent, Nouvel Observateur, Paris Match, Le Monde, Repórteres Sem Fronteiras, CNN, Reuters...
Viajei com o coração cheio de alegria mas vazio de expectativas. Sem falsas modéstias, conheço as minhas limitações - e as limitações das condições em que trabalho. Sei que parece uma frase feita, mas já era mesmo uma vitória estar entre os nomeados: não só fui a primeira jornalista portuguesa a ser escolhida pelo júri, desde que o prémio foi instituído, como a reportagem
Gaza: terra fértil para mártires, foi a única a ser seleccionada entre os trabalhos de dezenas de enviados especiais que cobriram a guerra naquele território, no início deste ano.
É por isso que, não tendo ganho, não sinto que tenha perdido.
O que perceberão ainda melhor ao ver que o prémio foi atribuído a
Christina Lamb, do
Sunday Times, por uma das suas reportagens no Afeganistão, região que conhece há mais de 20 anos. É uma das mais reputadas jornalistas do mundo, várias vezes premiada e eleita, por duas vezes, Correspondente Estrangeira do Ano. Aliás, foi também com uma reportagem no Afeganistão, na sequência da ocupação soviética, que recebeu, em 1988, o seu primeiro prémio, nos British Press Awards.
Deixo-vos os primeiros três parágrafos da reportagem
Afghanistan: Mission Impossible, esperando que sigam o link e continuem a leitura. Ao fazê-lo, perceberão melhor porque voltei de Bayeux com o coração ainda mais cheio. Sobretudo cheio de vontade... de fazer mais e melhor.
"There is something sinister about the Chinook helicopter, like a giant, dark insect bearing down from the skies to disgorge battle-weary soldiers amid clouds of hot dust. When I think about war, whether it be ones I have reported in Iraq or Afghanistan or seen in Vietnam movies such as Apocalypse Now, the soundtrack in my head is always that of the throbbing blades coming closer and closer.Last week I sat perched inside a Chinook flying over Helmand, trussed up in flak jacket and helmet, squashed between some Royal Marines arriving for a six-month tour. Unable to talk over the loud rotors, some had earphones attached to iPods. Others, like me, had to make do with yellow military-issue earplugs and spent the journey watching the gunner scour the parched land below through the open back.
For long distances there was nothing to see but our dark shadow skimming across the desert. On the horizon was a camel train, perhaps carrying the opium that will end up as heroin on British streets. Temperatures can exceed 50C out here, and the one mudwalled settlement we see seems to be sinking into the sands like an ancient ruin. Miles and miles from anywhere, we fly low over a man with a cloth turban wrapped round his head and a small herd of ragged brown sheep. He does not even look up. What does he think about these foreign soldiers flying back and forth, I wonder."