sábado, 22 de dezembro de 2012

Leitura da semana


Está a dar que falar a reportagem multimédia Snow Fall, do  jornalista John Branch, do New York Times. Absolutamente brilhante, levou seis meses a produzir. Dá que pensar, no mínimo... 
O DN explica hoje, um pouco melhor, do que se trata:
"A edição online do jornal norte-americano New York Times apresentou ontem uma original forma de apresentação de peças jornalísticas que integra texto, imagens, animações e vídeo de maneira surpreendente.
Um dos mais antigos jornais do mundo atualmente em publicação e igualmente um dos primeiros a saber utilizar a Internet como meio de divulgação dos seus conteúdos, o NYT surpreendeu esta semana os seus leitores com a reportagem Snow Fall - The Avalanche at Tunnel Creek.
A publicação, como pode ver seguindo o link acima, é fora do vulgar. E está a deixar muitos profissionais da comunicação - alguns do próprio NYT, segundo o jornal online Atlantic Wire - a pensar se já estamos para lá do tempo em que simples imagens e palavras são suficientes para contar uma boa história.
Ou, numa perspectiva contrária, se tanta animação gráfica não acaba por se sobrepor à informação que se pretende transmitir.
'Snow Fall', é uma série de seis reportagens de John Branch que contam a história de 16 esquiadores apanhados numa avalanche em Setevens Pass, estado de Washington, em 19 de fevereiro deste ano. Um imenso trabalho que demorou seis meses a concretizar, como se pode ler na ficha publicada no fim do texto.
A animação da página do New York Times inicia-se com uma imagem animada de vento soprando neve na montanha. Ao contrário do que se poderia pensar, não se trata de um mero gif animado, mas de um pequeno vídeo em 'loop' programado em HTML5. Depois, conforme o leitor desce ao longo da página, texto, imagens e gráficos vão-se sucedendo, com transições suaves que ajudam ao sentido estético do conjunto e proporcionam uma experiência diferente.
O Atlantic Wire deixa a pergunta no ar: é este o futuro do jornalismo online? Só o tempo o dirá. Mas sugerimos que, além de contemplar a referida página, leia a reportagem. Até porque, sem ela, o resto não existiria."

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Aufiderzein, goodbye






































Primeira página do Finantial Times Deutchland, que hoje chegou às bancas. Mais uma vítima da crise que afecta a imprensa mundial. O jornal despede-se dos leitores desta forma:

"Desculpem-nos, caros accionistas, por termos torrado tantos milhões. Desculpem-nos, caros anunciantes, por termos sido críticos quando falámos dos vossos negócios. Desculpem-nos, caros porta-vozes de imprensa, por termos seguido tão poucas vezes as vossas sugestões. Desculpem-nos, queridos políticos, que tenhamos acreditado tão pouco em vocês. Desculpem-nos, caros colegas, por vos termos posto a trabalhar tantas noites e tantos fins-de-semana. Desculpem-nos, caros leitores, que isto sejam as últimas linhas do Financial Times Deutschland. Lamentamos. Pedimos desculpa, sem reservas. Porém, se pudéssemos recomeçar, faríamos tudo igual."


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Austeridade portuguesa no New York Times

















(Foto: Mauricio Lima/New York Times)


É brutal o retrato de Portugal que o New York Times partilha com o mundo, no dia em que o «orçamento da austeridade» foi aprovado. As fotografias são assinadas pelo brasileiro Mauricio Lima, premiado internacionalmente pelas reportagens que realizou no Iraque e no Afeganistão. A guerra que agora retrata é outra - a nossa. Para ver aqui.
Um artigo de fundo, sobre a crise portuguesa, deverá ser publicado em breve no jornal norte-americano.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Imagens que valem mil palavras

















A história da foto que fez primeira página do Washington Post de quinta-feira, onde um jornalista passou a ser o centro da notícia. O homem que chora a morte do filho, um bebé de 11 meses, morto num raid israelita, é Jihad Mishawawi, correspondente da BBC em Gaza.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Nate, o adivinho













Todos os que se interessam pelas eleições norte-americanas já terão ouvido falar das previsões que Nate Silver faz diariamente no New York Times. Hoje, a 24 horas da eleição, o seu blogue Five Thirty Eight86,3% de probabilidades de vitória para Barack Obama.

A forma como NateSilver faz as suas previsões foi ontem abordada na CBS, numa excelente peça sobre como as sondagens e previsões eleitorais evoluíram ao longo das últimas décadas.

Com formação na área da economia e da estatística, ele começou por brilhar no desporto, criando um sistema próprio de previsões de resultados de basebol, que levou muita gente a ganhar apostas. Mas foi quando se interessou pela política, há quatro anos, que conquistou fama mundial. Ele acertou em 49 dos 50 estados ganhos por Obama em 2008 – falhou apenas o Indiana, que foi decidido por 1% de diferença.

A partir daí, o seu blogue foi comprado pelo New York Times e o seu nome entrou na lista das 100 Pessoas Mais Influentes do Mundo, da revista TimeAmanhã veremos se as suas previsões se mantêm certeiras...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Descoberta da semana

























Nos tempos que correm, lançar um novo projecto editorial seria, só por si, de louvar. Mas esta nova revista de viagens merece atenção por muito mais razões. Senão vejamos: Chama-se We Are Here, é trimestral, e em cada edição falará de uma cidade diferente - o primeiro número é dedicado ao Dubai, sede da empresa editora, fundada por um kuwaitiano e um irlandês.

Será, como os seus editores descrevem, um longo postal sobre alguns dos mais interessantes locais do mundo, da forma mais despretensiosa possível. Todas as fotografias são feitas com smartphones e a revista tem um design clean, sendo paginada em poucas horas, num laptop.

Os editores dizem combinar esta simplicidade com a exigência, sofisticação e qualidade dos textos, que vão desde reportagens de longo formato, num estilo narrativo, até pequenos contos, peças de humor ou poesia.
Boa viagem!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Raspadinha

























A descoberta de uma pintura de Picasso escondida por baixo de uma outra obra do autor é revelada hoje no site do New York Times de forma particularmente feliz. Passando com o rato por cima da obra Woman Ironing, do período azul do pintor, começa a ser-nos revelada a obra escondida, um esboço de um homem de bigode. Podem explorar o quadro aqui e ler ainda toda a história desta misteriosa pintura  - agora em exposição no Guggenheim.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um país de 'patas arriba'...



Notícia no site do jornal El Mundo, 5 de Outubro de 2012:

Es el último año que en Portugal se conmemora el Día de la Implantación de la República (5 de octubre de 1910) con un festivo nacional. Es uno de los cuatro, dos civiles y dos religiosos, que ha suprimido el gobierno de Passos Coelho a partir de 2013, con el objetivo de aumentar la competitividad de la economía portuguesa.
Lo más curioso del día, que ha contado con los tradicionales discursos políticos, se ha vivido precisamente al comienzo de la ceremonia, cuando el presidente portugués se disponía a izar la bandera nacional en el balcón principal de la casa consistorial de Lisboa. Para sorpresa de los pocos asistentes que había en ese momento, muchos menos que otros años, en la Plaza del Municipio, la bandera lusa empezó a subir por el asta colocada al revés, con el escudo para abajo.
"Es el estado del país que tenemos, que está patas arriba", comentaron algunos de los presentes, que trataron de avisar del error. Aún así, la bandera aún estuvo mal colocada varios minutos, en los que las autoridades trataron de disimular el error con el que han abierto los informativos de todas las televisiones.
Y no han terminado ahí los incidentes del día. Los discursos políticos se han realizado a puerta cerrada, en una ceremonia de carácter particular, algo que también ha molestado a muchos portugueses que consideran que la conmemoración de la implantación de la República tendría que tener un carácter más popular.
Tras las intervenciones del alcalde de Lisboa, Antonio Costa, y del presiente de la República, Aníbal Cavaco Silva, ha irrumpido en la sala una mujer de 57 años que entre gritos y protestas se ha quejado de que con su pensión de 227 euros al mes no le llega ni para medicamentos. "Si no fuese por mi hijo viviría en la más absoluta miseria, es el momento de que las personas empecemos a gritar porque todo esto es un disparate", ha protestado la mujer, a la que varios miembros de seguridad han bloqueado el paso, impidiéndole que se acercase a los políticos, a los que ha acusado de llenarse los bolsillos con el dinero de los portugueses.
No ha sido la única espontánea en el acto. Después de los gritos desesperados de la jubilada, fue el turno de la cantante lírica Ana Maria Pinto, que interpretó a capela la canción "Firmeza", del músico portugués Lopes-Graça. Y aunque se trataba de una acción de protesta, su actuación fue aplaudida por los presentes, que pensaron que formaba parte de las conmemoraciones oficiales.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A magia de Rowling

























O novo livro da autora de Harry Potter foi lançado na passada quinta-feira em Inglaterra (chegará em Novembro a Portugal) e esta sua primeira incursão no mundo da literatura para adultos está a gerar grande expectativa. A jornalista Decca Aitkenhead, do Guardian, foi uma das raras pessoas a ter acesso ao manuscrito antes do lançamento. Neste texto ela explica como, de forma a poder fazê-lo, teve de assinar mais papéis do que os requeridos para comprar uma casa...  Ou como os funcionários da editora lhe entregaram o manuscrito com toda a reverência e um cuidado extremo,  como se transportassem nas mãos não um monte de papéis mas um vaso da Dinastia Ming... 
Afinal, que seria de esperar quando estamos a falar de uma autora que vendeu mais de 450 milhões de livros e que já garantiu, só em pré-encomendas deste novo romance, mais de um milhão de cópias?
E de que fala o tão antecipado romance? De política, de questões como a prostituição, a dependência de drogas, a monoparentalidade e as dificuldades de viver numa cidade pequena. Vou ler. Depois vos direi mais coisas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ai ai, que desilusão...


Ora bem. como dizer? É isso: a Monocle sobre a Lusofonia, de que aqui falámos na semana passada, está a ser uma desilusão. Que pena... a começar por este texto de apresentação, assinado por Steve Bloomfield, editor internacional da revista britânica. Diz ele que os portugueses, querendo aproximar-se dos seus irmãos do outro lado do Atlântico, até passaram a escrever a palavra FACTO de outra forma. Agora escreveríamos como os brasileiros: FATO. Pois, não é verdade. Lamentamos. E um bocadinho de FACT CHECKING, ó Monocle?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A encruzilhada portuguesa na Economist

A ler, sem demora, este artigo da Economist sobre a situação de Portugal: 


How much austerity is too much?

(...)
Mr Passos Coelho’s policies may have succeeded in emphasising Portugal’s differences from Greece. But he is also discovering that austerity cannot be pushed past a limit that is determined by voters, whether they are violently rioting in Athens or marching peacefully in Lisbon.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Monocle à portuguesa

























Estou muito curiosa com este número da Monocle, que chega esta semana às bancas, dedicado à «Geração Lusofonia». Podem espreitar aqui uma apresentação desta edição da revista britânica, que considera o português como «a nova língua do poder e do comércio». Porquê? Bom, teremos de comprar para descobrir... :)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Leitura da semana


Angela fue una chica divertida

Este é o título de um surpreendente perfil da chanceler alemã Angela Merkel, ontem publicado no El País, onde se descobre que ela foi barwoman numa discoteca e até «okupa» num bloco de apartamentos de Berlim... Revelações a propósito da publicação de um novo livro, A Madrinha, escrito por uma sua ex-colaboradora.

"Todas las mañanas, Angela Merkel prepara el desayuno de su marido, calibra el comportamiento del euro en la apertura de los mercados y pasa a deglutir balances económicos y rivales políticos con la misma premiosidad con la que escancia café sobre la taza de su taciturno consorte, Joachim Sauer, un talento en química cuántica. La amorosa rutina de primera hora, confesada a corresponsales diplomáticos hace un año, durante vuelo oficial de Nigeria a Berlín, convive con su peligroso autoritarismo y un refinado gusto por el estofado de conspirador, preferiblemente de su partido, la Unión Demócrata Cristiana (CDU), según el libro La madrina,publicado a finales de agosto por Gertrud Höler, adscrita a la vieja guardia oficialista. La canciller alemana, de 58 años, disfruta cocinando sopa de patata y ganso con ciruelas pasas; se extasía con la ópera El holandés errante, de Richard Wagner, y, aunque cueste trabajo imaginarla de mandil, fue camarera, y okupa en un edificio de apartamentos de la Alemania comunista. Fue una chica divertida dentro de un orden.

(...)
El corresponsal diplomático de la revista Spiegel, Dirk Kurbjuweit, escribió hace un año que la estereotipada imagen de la Merkel burócrata, gélida, distante, de pantalón y chaqueta abotonada, es solo la cara de la moneda: la que quiere trasmitir al mundo. “He viajado con ella muchos años, he participado en todas las conversaciones off the record y la he observado”. ¿Qué descubrió Kurbjuweit en el anverso? No mucho. Merkel no es un cascabel, aunque a corta distancia, en grupos pequeños, puede mostrarse vehemente, dicharachera, emocionada por la alegría y la tristeza. Los elementos dominantes de su personalidad, al derecho y al revés, siguen siendo la distancia, el análisis y el sentido de la observación, desarrollado en la Alemania de partido único y policía política, donde convenía abrir bien los ojos y cerrar la boca.

El corresponsal la vio llorar una vez, pero no de pena, sino de risa. El ataque sobrevino al evocar un chusco episodio: los lituanos sospechaban que Bielorrusia estaba construyendo una central nuclear cerca de sus fronteras, por lo que el primer ministro de Lituania decidió comprobar sobre el terreno la veracidad de las sospechas. Disfrazados de turistas, el gobernante y su familia se acercaron pedaleando a la frontera con Bielorrusia, simulando observar la naturaleza. La policía receló del dominguero pelotón y detuvo al primer ministro. Al llegar a este punto del relato, Merkel comenzó a reírse a mandíbula batiente, a lágrima viva. No podía hablar. Le parecía increíble, surrealista, desternillante, la maniobra del mandatario báltico. La señora no es de carcajada frecuente, ni se altera en público, como comprobó el camarero que en febrero derramó una cerveza sobre su espalda. “¡Mierda!”, exclamó el chaval. Merkel se dio la vuelta y le sonrió."


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Leitura da semana


























Aviso: a leitura deste artigo pode causar arrepios. Ou pesadelos. Parece um guião de um filme de terror muito mau mas parece que foi mesmo assim: segundo revela uma investigação da Vanity Fair, a Igreja da Cientologia fez um casting para conseguir a noiva perfeita para Tom Cruise. Em 2004, a escolhida terá sido a actriz iraniana Nazanin Boniadi, depois de sujeita a uma série de entrevistas e "retoques" (cabelo mais escuro, dentes melhorados...). Contudo, o 'namoro' durou apenas três meses. Houve um dia em que ela foi retirada de casa do actor e levada para um 'centro de recuperação' da Igreja, onde lhe comunicaram que Cruise já não queria mais nada com ela. Quando a actriz perguntou porque não era ele a dizer-lhe isso, pessoalmente, disseram-lhe apenas que o actor não deveria ser incomodado.
Esta é apenas uma das partes da investigação que revela pormenores desconhecidos das exigências de um casamento à la Cientologia. Nicole Kidman não aguentou (e quase não consegue ver as duas crianças que adoptou com Cruise), Penelope Cruz não terá sido aceite pela Igreja e Katie Holmes, apesar de muito previdente (assim o prova o acordo pré-nupcial desenhado pelo seu pai...), só tarde percebeu que perderia muito mais que a sua personalidade se continuasse a vergar-se às exigências do marido (e da Igreja): a sanidade mental da sua filha terá falado mais alto. Veremos se foi a tempo de a resgatar.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sapatos









































Estou absolutamente fascinada com a força das imagens captadas pela fotógrafa norte-americana Shannon Jensen, no Sudão do Sul, que descobri hoje na Newsweek. Ela tem acompanhado todas as etapas do brutal nascimento deste novo país e escolheu contar as histórias dos homens, mulheres e crianças desesperadas que chegam diariamente aos campos de refugiados, fugindo das matanças que prosseguem no Sudão e no Darfur, através dos seus sapatos.
Uma ideia tão simples e tão poderosa.
Os sapatinhos coloridos em destaque pertencem a Musa, um menino de dois anos que andou cerca de 50 km para conseguir cruzar a fronteira - para uma nova (e melhor) vida, espera-se. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sobre o terrorismo financeiro

"Um canhão pelo cú" é o título de um texto de Juan José Millás publicado na semana passada no El País e que se tornou viral. O suplemento Dinheiro Vivo ( do DN e JN) publica hoje a sua tradução que, com a devida vénia, aqui republico. 
Aviso: contém linguagem que pode ser considerada ofensiva.


Um canhão pelo cú
Se percebemos bem - e não é fácil, porque somos um bocado tontos -, a economia financeira é a economia real do senhor feudal sobre o servo, do amo sobre o escravo, da metrópole sobre a colónia, do capitalista manchesteriano sobre o trabalhador explorado. A economia financeira é o inimigo da classe da economia real, com a qual brinca como um porco ocidental com corpo de criança num bordel asiático.
Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.
Se o preço baixar demasiado, talvez não te compense semear, mas ficarás endividado sem ter o que comer ou beber para o resto da tua vida e podes até ser preso ou condenado à forca por isso, dependendo da região geográfica em que estejas - e não há nenhuma segura. É disso que trata a economia financeira.
Para exemplificar, estamos a falar da colheita de um indivíduo, mas o que o porco filho da puta compra geralmente é um país inteiro e ao preço da chuva, um país com todos os cidadãos dentro, digamos que com gente real que se levanta realmente às seis da manhã e se deita à meia-noite. Um país que, da perspetiva do terrorista financeiro, não é mais do que um jogo de tabuleiro no qual um conjunto de bonecos Playmobil andam de um lado para o outro como se movem os peões no Jogo da Glória.
A primeira operação do terrorista financeiro sobre a sua vítima é a do terrorista convencional: o tiro na nuca. Ou seja, retira-lhe todo o caráter de pessoa, coisifica-a. Uma vez convertida em coisa, pouco importa se tem filhos ou pais, se acordou com febre, se está a divorciar-se ou se não dormiu porque está a preparar-se para uma competição. Nada disso conta para a economia financeira ou para o terrorista económico que acaba de pôr o dedo sobre o mapa, sobre um país - este, por acaso -, e diz "compro" ou "vendo" com a impunidade com que se joga Monopólio e se compra ou vende propriedades imobiliárias a fingir.
Quando o terrorista financeiro compra ou vende, converte em irreal o trabalho genuíno dos milhares ou milhões de pessoas que antes de irem trabalhar deixaram na creche pública - onde estas ainda existem - os filhos, também eles produto de consumo desse exército de cabrões protegidos pelos governos de meio mundo mas sobreprotegidos, desde logo, por essa coisa a que chamamos Europa ou União Europeia ou, mais simplesmente, Alemanha, para cujos cofres estão a ser desviados neste preciso momento, enquanto lê estas linhas, milhares de milhões de euros que estavam nos nossos cofres.
E não são desviados num movimento racional, justo ou legítimo, são-no num movimento especulativo promovido por Merkel com a cumplicidade de todos os governos da chamada zona euro.
Tu e eu, com a nossa febre, os nossos filhos sem creche ou sem trabalho, o nosso pai doente e sem ajudas, com os nossos sofrimentos morais ou as nossas alegrias sentimentais, tu e eu já fomos coisificados por Draghi, por Lagarde, por Merkel, já não temos as qualidades humanas que nos tornam dignos da empatia dos nossos semelhantes. Somos simples mercadoria que pode ser expulsa do lar de idosos, do hospital, da escola pública, tornámo-nos algo desprezível, como esse pobre tipo a quem o terrorista, por antonomásia, está prestes a dar um tiro na nuca em nome de Deus ou da pátria.
A ti e a mim, estão a pôr nos carris do comboio uma bomba diária chamada prémio de risco, por exemplo, ou juros a sete anos, em nome da economia financeira. Avançamos com ruturas diárias, massacres diários, e há autores materiais desses atentados e responsáveis intelectuais dessas ações terroristas que passam impunes entre outras razões porque os terroristas vão a eleições e até ganham, e porque há atrás deles importantes grupos mediáticos que legitimam os movimentos especulativos de que somos vítimas.
A economia financeira, se começamos a perceber, significa que quem te comprou aquela colheita inexistente era um cabrão com os documentos certos. Terias tu liberdade para não vender? De forma alguma. Tê-la-ia comprado ao teu vizinho ou ao vizinho deste. A atividade principal da economia financeira consiste em alterar o preço das coisas, crime proibido quando acontece em pequena escala, mas encorajado pelas autoridades quando os valores são tamanhos que transbordam dos gráficos.
Aqui se modifica o preço das nossas vidas todos os dias sem que ninguém resolva o problema, ou mais, enviando as autoridades para cima de quem tenta fazê-lo. E, por Deus, as autoridades empenham-se a fundo para proteger esse filho da puta que te vendeu, recorrendo a um esquema legalmente permitido, um produto financeiro, ou seja, um objeto irreal no qual tu investiste, na melhor das hipóteses, toda a poupança real da tua vida. Vendeu fumaça, o grande porco, apoiado pelas leis do Estado que são as leis da economia financeira, já que estão ao seu serviço.
Na economia real, para que uma alface nasça, há que semeá-la e cuidar dela e dar-lhe o tempo necessário para se desenvolver. Depois, há que a colher, claro, e embalar e distribuir e faturar a 30, 60 ou 90 dias. Uma quantidade imensa de tempo e de energia para obter uns cêntimos que terás de dividir com o Estado, através dos impostos, para pagar os serviços comuns que agora nos são retirados porque a economia financeira tropeçou e há que tirá-la do buraco. A economia financeira não se contenta com a mais-valia do capitalismo clássico, precisa também do nosso sangue e está nele, por isso brinca com a nossa saúde pública e com a nossa educação e com a nossa justiça da mesma forma que um terrorista doentio, passo a redundância, brinca enfiando o cano da sua pistola no rabo do sequestrado.
Há já quatro anos que nos metem esse cano pelo rabo. E com a cumplicidade dos nossos.
Juan José Millás

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Leitura da semana


























Esta é a capa do segundo número da revista Make Shift, dedicada à Mobilidade. Entretanto já está disponível a terceira edição, sobre a Resistência, tendo a revista de lançamento sido sobre a Cultura da Reutilização. É uma revista trimestral muito interessante, criada em Nova Iorque mas dedicada à criatividade e à capacidade inventiva de povos de todo o mundo - sobretudo dos que vivem com menos, seja nas favelas do Rio ou nos slums de Nova Delhi.

Para já, estou fascinada com esta edição, com uma fotografia de capa que desperta de imediato a nossa necessidade de partir à aventura, à descoberta de novas paragens.  Os textos são outra lufada de palavras frescas, com ângulos inesperados, sobre temas que pouco ou nada têm que ver com a actualidade. Já tinha saudades de me divertir tanto a ler uma revista! Procurem-na nos stands de imprensa internacional, comprem para ipad e/ou espreitem aqui:


Mobility Issue:
(...)
Our travels form a symphony of movement, coordinated by drivers and guided by norms. Each driver constantly makes decisions to stabilize the vehicle, avoid a collision, or maximize profits. And each vehicle sits at the center of its own ecosystem: a network of makers, repairmen, and fuel suppliers—and sometimes of regulators, bribers, and smugglers. Driving each story is human ingenuity—creativity fueled by resource constraints. Whether the motivation is to solve problems, earn revenue, or strengthen relationships, we keep moving ourselves and our possessions, extending our reach to places unknown and returning home.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Uma boa surpresa

























Muito interessante esta revista indiana, escrita em língua inglesa, que aposta no jornalismo narrativo e no jornalismo de investigação, que descobri recentemente. Lançada originalmente nos anos 40, a Caravan deixou de ser publicada em 1988 mas renasceu em 2010, com uma periodicidade mensal e uma versão digital gratuita, para ler em tablets ou online.
Na capa da mais recente edição, um extenso artigo sobre as guerras e os jogos de poder entre as duas agências de espionagem do país. Muito, muito bom.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Capa da semana






































Fabulosa capa do street artist britânico Bansky para a revista do El Mundo. Palavras para quê?

sábado, 28 de julho de 2012

Que comecem os Jogos!

























Que comecem os Jogos!

(...lendo também a edição especial da Time, com artigos tão interessantes como os que nos revelam os treinos da primeira mulher boxeur afegã ou os dilemas da equipa de luta livre tchechena).

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Leitura da semana


















MarieColvin’s Private War, um extraordinário perfil da jornalista morta na Síria em fevereiro, publicado na Vanity Fair. Esta mulher dura, que usava uma pala no olho mas soutiens La Perla por baixo do colete à prova de bala, era uma lenda entre repórteres de guerra de todo o mundo.




terça-feira, 17 de julho de 2012

Vrum vrum...



Adoro esta revista sueca, que revolucionou a forma de retratar o mundo automóvel. Na Carl's Cars, mais do que falar de pistons de injecção electrónica, desvendam-se emoções. O design da revista, já distinguido com a medalha de Ouro da Society of Publication Designers (Nova Iorque) e o lápis amarelo dos D&AD Awards (Londres), «suaviza um universo que, de alguma forma, é árido e impessoal», como me disse o director Karl Eirik Haug, quando conversei com ele, em 2009. A criatividade da designer Stéphanie Dumont criou um mundo paralelo ao vendido pela indústria e replicado nas outras revistas do sector. Um mundo onde, como diz Karl, «os carros voltaram a ser cool».

A ironia das reportagens também ajuda, claro. O artista Jeff Koons, por exemplo, foi desafiado para uma entrevista, enquanto o jornalista o arrastava, à boleia, pelo país. O estilista Olivier Theysken aceitou conversar (e sujar-se) numa sucata. E os completos desconhecidos também têm direito a páginas de atenção: não será estranho encontrar um artigo sobre um tipo que tem 30 mil jantes a decorar o jardim.

A ideia da revista surgiu à mesa de um café, em Oslo, em 2001. Karl, que se assume como «um doido por carros, que passava a vida a tentar explicar o quão interessante pode ser um Zastava» (marca sérvia), encontrou em Stéphanie a companheira perfeita para desenhar as páginas onde caberia todo o seu entusiasmo.
Hoje, a Carl's Cars continua a enfeitiçar todos os que a descobrem. Procurem-na numa banca internacional porque online não há nada para ninguém...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

FLIP: A poesia está na rua


Texto publicado no Portal Literal, Brasil:

Diário da Flip: a poesia está na rua

 “As notícias da minha morte foram exageradas.”  Mark Twain
É um lugar-comum muitas vezes repetido, mas é também uma evidência imediata para quem chega: Paraty é especial. Seja a brancura das fachadas imaculadas, seja a memória do tráfico negreiro, seja o esplendor azul do mar e verde do mato, sejam as ruas com pedras pé-de-moleque por onde circulam carroças com um vagar de antigamente – uma tranquilidade que desacelera o mundo e quem aqui chega. Paraty é um lugar ideal para se ler um livro. E para se escrever um livro.
É nisso que penso ao entrar no centro histórico da cidade, imaginando que, entre todas as pessoas que caminham pelas ruas ao entardecer, haverá já dezenas de escritores, enquanto outros estarão nos seus quartos de pousada, talvez escrevendo a página de um romance, talvez suspendendo a lâmina durante o barbear porque um poema assomou de repente no coração e partiu para o cérebro como uma bala perdida, talvez admirando os beija-flores que vão beber água aos jardins das pensões coloniais.
É uma visão romântica, esta de imaginar dezenas, se não centenas, de escritores numa cidade antiga e encostada no mar, todos eles inspirados e laboriosamente criando mais histórias, mais personagens, mais livros. Mas o que seria da literatura (e dos escritores) sem o romantismo?
Sem receio de parecer demasiado lírico, entrei na cidade onde até os cardápios dos restaurantes adaptaram a poesia de Carlos Drummond de Andrade, este ano homenageado na FLIP. As palavras do poeta, que faria 110 anos, andavam por toda a cidade, surgiam até projetadas na parede da igreja, na Praça da Matriz, fazendo-me lembrar dos tempos de inusitado otimismo lusitano, pós-revolução dos cravos, quando em Portugal se dizia e escrevia nas paredes: “a poesia está na rua”.
Sou suspeito: o meu ofício de escritor e editor providencia diariamente lenha para o lume do romantismo literário, fazendo-me acreditar que, tal como as notícias sobre a morte de Mark Twain, também as sentenças sobre a morte do livro são exageradas. E não falo apenas das tais dezenas de escritores recarregando a imaginação, nestes dias em Paraty, para depois irem rapidamente fechar-se no casulo de criação em Barcelona, no Rio de Janeiro ou em Manhattan. Não falo dos editores, agentes, livreiros, organizadores, moderadores e todos aqueles que, de uma forma bem pragmática (mas também romântica, espero), acreditam na sobrevivência do livro e continuam a produzi-lo, a divulgá-lo e a amá-lo.
É forte, a palavra amor. Mas sem contundência não há romantismo literário. E sem amor resta-nos apenas a burocracia. Não estou sozinho e muitos outros padecem do mesmo: não só os milhares que ouviram e aplaudiram e se riram com as palavras de Luis Fernando Veríssimo, na sessão inaugural da FLIP, como o próprio escritor, que declarou: “Aqui se celebra a permanência do livro.” E com a certeza das palavras de Veríssimo senti-me ainda mais entusiasta, lembrando-me de Javier Cercas, autor espanhol também presente na FLIP e que, num entrevista recente, quando questionado sobre o que pensava sobre o futuro do livro, respondeu: “Penso que é enorme.”
Depois da sessão de abertura, fortalecido pelas palavras de Veríssimo e de Cercas, voltei a passear pela ruas e a imaginar escritores e mais escritores trocando ideias para contos enquanto bebericavam cachaça de Paraty; ou autores imaginando trilogias fantásticas enquanto ouviam Caetano tocado por uma banda de rua; ou poetas ainda por revelar escrevendo em caderninhos o primeiro verso de um poema inventado à passagem de uma índia junto ao cais.
Por estes dias, milhares de leitores cruzam as ruas de Paraty, esgotam os ingressos da FLIP, escutam autores, leem seus livros, reduzem a velocidade, saciam o amor pela literatura sem pudor ou parcimónia.
Drummond escreveu: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos.”
Tenho a certeza que o poeta, além das pessoas, também se referia aos livros.
Hugo Gonçalves é autor de Fado, samba e beijos com língua (2011), entre outros títulos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Leitura da semana
















Imperdível, este After America, de Dexter Filkins, na New Yorker:


(...)

Nasir celebrated the American invasion in 2001, and, in the decade that followed, he prospered, and fathered six children. But now, with the United States planning its withdrawal by the end of 2014, Nasir blames the Americans for a string of catastrophic errors. “The Americans have failed to build a single sustainable institution here,” he said. “All they have done is make a small group of people very rich. And now they are getting ready to go.”
These days, Nasir said, the nineties are very much on his mind. The announced departure of American and NATO combat troops has convinced him and his friends that the civil war, suspended but never settled, is on the verge of resuming. “Everyone is preparing,” he said. “It will be bloodier and longer than before, street to street. This time, everyone has more guns, more to lose. It will be the same groups, the same commanders.” 
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A few weeks ago, Nasir returned to Deh Afghanan. The Taliban were back, practically ignored by U.S. forces in the area. “The Americans have a big base there, and they never go out,” he said. “And, only four kilometres from the front gate, the Taliban control everything. You can see them carrying their weapons.” On a drive to Jalrez, a town a little farther west, Nasir was stopped at ten Taliban checkpoints. “How can you expect me to be optimistic?” he said. “Everyone is getting ready for 2014.”


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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Leitura da semana


























Adoro a capa desta semana da Atlantic. Não só pela criatividade da produção fotográfica (tão simples e tão cool, conseguindo ter lá a informação toda), como pelo tema abordado e pela forma como é abordado: Why women still can't have it all...
Talvez seja por ter um filho de 17 meses, concedo. Mas escrevi várias vezes sobre a conciliação da vida familiar e profissional quando ainda não era mãe e sei como seria fácil cair nas discussões do costume. Isso não se passa no texto assinado por Anne-Marie Slaughter, que não é jornalista mas sim professora de Política e Relações Internacionais na Universidade de Princeton e que terminou recentemente um mandato como alto quadro no Departamento de Estado norte-americano - a seu pedido. A escrita deste artigo foi, aliás, uma promessa que fez a si própria quando ainda era acessora de Hillary Clinton, no governo Obama. Ela sentiu necessidade de partilhar a sua experiência, esperando que isso venha a contribuir para que se façam as mudanças necessárias na forma como nos organizamos em sociedade.


I still strongly believe that women can “have it all” (and that men can too). I believe that we can “have it all at the same time.” But not today, not with the way America’s economy and society are currently structured. My experiences over the past three years have forced me to confront a number of uncomfortable facts that need to be widely acknowledged—and quickly changed.

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While employers shouldn’t privilege parents over other workers, too often they end up doing the opposite, usually subtly, and usually in ways that make it harder for a primary caregiver to get ahead. Many people in positions of power seem to place a low value on child care in comparison with other outside activities. Consider the following proposition: An employer has two equally talented and productive employees. One trains for and runs marathons when he is not working. The other takes care of two children. What assumptions is the employer likely to make about the marathon runner? That he gets up in the dark every day and logs an hour or two running before even coming into the office, or drives himself to get out there even after a long day. That he is ferociously disciplined and willing to push himself through distraction, exhaustion, and days when nothing seems to go right in the service of a goal far in the distance. That he must manage his time exceptionally well to squeeze all of that in.
Be honest: Do you think the employer makes those same assumptions about the parent? Even though she likely rises in the dark hours before she needs to be at work, organizes her children’s day, makes breakfast, packs lunch, gets them off to school, figures out shopping and other errands even if she is lucky enough to have a housekeeper—and does much the same work at the end of the day.

Cheryl Mills, Hillary Clinton’s indefatigable chief of staff, has twins in elementary school; even with a fully engaged husband, she famously gets up at four every morning to check and send e-mails before her kids wake up. Louise Richardson, now the vice chancellor of the University of St. Andrews, in Scotland, combined an assistant professorship in government at Harvard with mothering three young children. She organized her time so ruthlessly that she always keyed in 1:11 or 2:22 or 3:33 on the microwave rather than 1:00, 2:00, or 3:00, because hitting the same number three times took less time.
Elizabeth Warren, who is now running for the U.S. Senate in Massachusetts, has a similar story. When she had two young children and a part-time law practice, she struggled to find enough time to write the papers and articles that would help get her an academic position. In her words:
I needed a plan. I figured out that writing time was when Alex was asleep. So the minute I put him down for a nap or he fell asleep in the baby swing, I went to my desk and started working on something—footnotes, reading, outlining, writing … I learned to do everything else with a baby on my hip.
The discipline, organization, and sheer endurance it takes to succeed at top levels with young children at home is easily comparable to running 20 to 40 miles a week. But that’s rarely how employers see things, not only when making allowances, but when making promotions. Perhaps because people choose to have children? People also choose to run marathons.

terça-feira, 19 de junho de 2012

American Genius






































Demorou mas, aos 76 anos, Woody Allen é finalmente descrito como «American Genius» numa grande revista norte-americana... A Newsweek dedica-lhe a capa, com uma fabulosa foto de Platon, a propósito da estreia do seu novo filme, Para Roma, com Amor. A sua carreira é revisitada neste artigo, assinado por Sam Tanenhaus, onde se percebe porque está o realizador a voltar ao universo do início da sua carreira, criando personagens cheias de fobias, manias e obsessões sexuais. Mas fica também claro que ele não se considera um génio. Aliás, ele diz que, dos 45 filmes que já realizou, nenhum se poderá classificar como obra-prima. 

(...) monomania has made him his era’s greatest comic presence, the one true heir of Charlie Chaplin and Buster Keaton. Allen, however, measures himself against stiffer competition. “I think I’ve now made almost 45 films,” he says. “Some nice ones. No masterpieces. I don’t kid myself. It’s not false modesty. If you look at Rashomon, The Bicycle Thief, The Grand Illusion, as masterpieces, [then] no: I don’t have a film I could show in a festival with those films.”

sábado, 16 de junho de 2012

Leitura da semana
























Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo, será talvez o homem mais procurado pelo FBI na era pós-Bin Laden, escreve o New York Times. Ele é o líder de um poderoso cartel mexicano, responsável por mais de metade das drogas que entram nos EUA, todos os anos. Na sua revista de fim-de-semana, o Times revela quem é este homem e como fez a sua fama e fortuna, até chegar ao lugar que hoje ocupa, como sucessor de Escobar. Um trabalho notável de Patrick Radden Keefe, jornalista da New Yorker.

«One afternoon last August, at a hospital on the outskirts of Los Angeles, a former beauty queen named Emma Coronel gave birth to a pair of heiresses. The twins, who were delivered at 3:50 and 3:51, respectively, stand to inherit some share of a fortune that Forbes estimates is worth a billion dollars. Coronel’s husband, who was not present for the birth, is a legendary tycoon who overcame a penurious rural childhood to establish a wildly successful multinational business. If Coronel elected to leave the entry for “Father” on the birth certificates blank, it was not because of any dispute over patrimony. More likely, she was just skittish about the fact that her husband, Joaquín Guzmán, is the C.E.O. of Mexico’s Sinaloa cartel, a man the Treasury Department recently described as the world’s most powerful drug trafficker. Guzmán’s organization is responsible for as much as half of the illegal narcotics imported into the United States from Mexico each year; he may well be the most-wanted criminal in this post-Bin Laden world. But his bride is a U.S. citizen with no charges against her. So authorities could only watch as she bundled up her daughters and slipped back across the border to introduce them to their dad.»