(As notícias pouco importam na praia de Telavive. Foto: Uriel Sinai/Time)
No dia em que as negociações para a paz entre Israel e a Palestina foram retomadas em Washington, vale a pena ler, na Time, este artigo: «Why israelis don't care about peace». Eu acrescentaria: «E os palestinianos idem aspas». Pelo menos para esta encenação da paz que lhes propõem.
Hoje, ao ver as imagens de Netanyahu e Abbas, os seus falsos sorrisos e apertos de mão, recordei as palavras de um vendedor de legumes no mercado de Gaza, que conheci em Janeiro do ano passado, no final de mais uma guerra com Israel. O cheiro das bombas de fósforo ainda pairava no ar e ele explicou-me, encostado a uma parede forrada de cartazes em honra dos mártires mortos na guerra, porque a paz que lhes oferecem pouco lhes diz... Transcrevo essa parte da minha reportagem:
"(...) O Hamas promove empenhadamente o ideal do martírio junto da juventude. Um cd musical à venda na cidade tem, na capa, vários combatentes em acção. O título é elucidativo: Centenas de noivas à tua espera.
Os cartazes honrando os mártires encontram-se nos locais mais inesperados. Como no mercado central da cidade, decorando a banca de legumes de Mari Abu Arab, 39 anos. «Nenhum é da minha família mas são todos meus irmãos», explica, depois de contar como os israelitas destruíram as suas culturas. «O que não foi espezinhado pelos tanques acabou queimado pelas bombas de fósforo.»
Mari necessitará de 5 anos para recuperar a sua quinta. Mas para isso seria preciso abrir terreno para a paz. «E o que é paz que nos oferecem? É só pararem de despejar bombas em cima de nós? Não! Nós precisamos é das fronteiras abertas, que o cerco termine de vez [as fronteiras de Gaza estão fechadas para o povo desde 2006].»
Já nas escolas das Nações Unidas, onde se apinham 6 000 pessoas que ficaram sem casa no último mês, tinha ouvido falar com raiva da noção que o mundo tem da paz que os palestinianos precisam. Um homem queixava-se, dizendo que dormia com 78 pessoas numa sala com pouco mais de 20 metros quadrados, que não tomavam banho há três semanas e que a comida que a ONU distribuía era pouca, uma lata de atum para cada três ou quatro, deixando todos com fome. Um outro interrompeu a conversa, aos gritos, a ira a incendiar-lhe o olhar: «Não quero saber da comida, nós não somos animais que podem ser fechados num curral e a quem se atira umas sacas de farinha para apaziguar as consciências do mundo. Estou farto disto, eu quero é trabalhar para dar comida à minha família, não quero esmolas. Falam tanto de paz, nós precisamos é de liberdade!»"
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