domingo, 27 de novembro de 2011

Leitura da semana


A revista de domingo do El País celebra 35 anos de publicação com este número especial, onde se revisitam as 35 melhores reportagens da sua história.

Da primeira, sobre como muitas mulheres iam, nos anos 70, abortar em Londres,

"El despertador suena a las seis y media. Mari Carmen está muy nerviosa. La clínica es un delicioso chalet".

passando pelas grandes vagas de imigração de África para a Europa (via Espanha), através do olhar do jornalista John Carlin, que viria a ganhar, com este trabalho, o prémio Ortega y Gasset,

"Se habla mucho de las pateras, pero la gente no sabe lo que está ocurriendo en el desierto. Un caminar sin cesar."

viajando até 1979, com Rosa Montero acompanhando os últimos dias do exílio do ayatollah Khomeini, antes do seu regresso ao Irão,

"Cinco veces al día, el imán sale de su retiro, cruza la carretera, entra en el chalet de enfrente y dirige los rezos. Son los únicos momentos en los que sus seguidores pueden verle, y así le esperan cada día durante horas, de pie sobre el helado suelo, a la intemperie."

até à recente série de oito reportagens, em parceria com os Médicos Sem Fronteiras, dando voz às vítimas dos conflitos esquecidos deste planeta (e com textos de Mario Vargas Llosa, no Congo, Juan José Millás, em Cachemira, ou Laura Esquivel, na Guatemala, apenas para nomear alguns...)

"Vienen subiendo, y son miles. Mujeres con sus hijos. Saben que muchas morirán por el camino, o que tendrán que dejar enterrados a sus hijos. Pero la decisión está tomada y no pararán hasta encontrar un lugar donde la vida les abra por fin la puerta."

 ...há mesmo muito para ler...
Boa semana, boas leituras.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

36h no Porto


Ai, ai, que saudades do Porto... a culpa, desta vez, é do New York Times, que nos leva à descoberta da cidade, no artigo 36 hours in Porto, misturando sugestões de locais recentes (como o restaurante DOP, do chefe Rui Paula, que, fiquei a saber, tem uma lista de vinhos do Douro com 60 páginas!), com outros mais tradicionais, como a incontornável Manteigaria do Bolhão, maravilhosamente descrita, desta forma: "stocks enough cured meat to feed a corporate picnic (or spark a PETA protest)"...
As fabulosas fotos são, como já vai sendo costume, do nosso João Pina.

domingo, 6 de novembro de 2011

Insanidade

(Foto: Hernán Zin/El País)

Hoje, na revista do El País, uma reportagem muito interessante do jornalista Jon Sistiaga, sobre a banalização da violência. Ele retrata a insanidade da vida na Somália mas este texto poderia descrever muitos outros lugares do mundo. Infelizmente. Lugares onde, cinco minutos depois de rebentar uma bomba ao fundo da rua, há um cozinheiro que vem à porta chamar os clientes de volta para a mesa do restaurante, porque a comida está a arrefecer...

«Al aterrizar en Mogadiscio, el visitante debe rellenar un formulario. Nombre, nacionalidad, motivo de la visita y... ¡tipo de arma que lleva! Marca, calibre y número de serie. Si no traes ninguna, te miran con cara de extrañeza. Así se entra en Somalia. Un país que lleva 20 años hundido en la anarquía. Ahora sufre la peor crisis humanitaria en lo que llevamos de siglo. Hambrunas. Sequía. Balas. Casi dos millones de desplazados, dentro y fuera del país. Entramos en el territorio de los señores de la guerra en el Cuerno de África.»

sábado, 5 de novembro de 2011

King of King's



Jon Lee Anderson é um dos melhores jornalistas da actualidade, na minha modesta opinião. Nunca li nada dele que ficasse abaixo da excelência. Admiro-o há muitos anos e quando o conheci pessoalmente, no Haiti, parecia uma adolescente envergonhada... estive quase a esticar o bloco e a caneta que trazia nas mãos para lhe pedir um autógrafo. Contive-me, claro. Hoje, sem grande vontade de ler mais coisas sobre Kadafi, dei por mim a mergulhar sem retorno neste belíssimo King of King's, publicado na última edição da New Yorker:

«How does it end? The dictator dies, shrivelled and demented, in his bed; he flees the rebels in a private plane; he is caught hiding in a mountain outpost, a drainage pipe, a spider hole. He is tried. He is not tried. He is dragged, bloody and dazed, through the streets, then executed.

The humbling comes in myriad forms, but what is revealed is always the same: the technologies of paranoia, the stories of slaughter and fear, the vaults, the national economies employed as personal property, the crazy pets, the prostitutes, the golden fixtures. Instinctively, when dictators are toppled, we invade their castles and expose their vanities and luxuries—Imelda’s shoes, the Shah’s jewels. We loot and desecrate, in order to cut them finally, futilely, down to size.»