terça-feira, 28 de outubro de 2008

uma nova Atlantic

A Atlantic de Novembro já chegou às bancas, e de cara lavada. Em 151 anos de história, esta é a 8ª vez que o seu grafismo é alterado e a direcção da revista aproveitou o momento para modificar algumas secções, como explica o director James Bennet (sobre o novo design, aqui ficam as notas do director gráfico, a quem interessar).
Essas mudanças impunham-se num novo mundo, nestes tempos estranhos que vivemos:
in these days of Chinese momentum and American uncertainty, of warming seas and Twittered lives, of handheld miracles, pious killers, oracular genetics, and reborn political passions
E a Atlantic quis mudar para dar mais aos seus leitores:
a magazine about ideas that matter can be useful to those who want to understand what’s happening, and maybe to do something about it
Apoiado.
Ficarei atenta aos próximos números. Nesta edição, gostei especialmente do tema principal da capa, Devem as mulheres governar o mundo?, um exercício divertido que a jornalista Sandra Tsing Loh fez a partir do controverso livro que Dee Dee Myers, a assessora de imprensa do presidente Bill Clinton, agora publicou nos EUA. E este texto sobre a China vale mesmo a pena. Carlos, tu vais gostar especialmente, tenho a certeza.

domingo, 26 de outubro de 2008

nascida para salvar

Esther González com Izel ao colo, que nasceu para salvar a sua outra filha, Erine.
Foto: SUSANNA SÁEZ/El Pais
No El Pais de hoje é difícil ficar indiferente às histórias de quatro famílias que recorreram à ajuda da genética para salvar um filho doente. Apesar da lei espanhola da reprodução medicamente assistida prever desde 2006 a possibilidade da concepção in vitro para a selecção de embriões compatíveis com os seus irmãos (o que cá não é possível, em nome do «respeito à vida»), estas famílias dizem que a legislação não é eficaz e acabaram por recorrer ao estrangeiro (Bélgica, Reino Unido e EUA, por exempo).
«Salvei uma vida e criei outra», diz Esther, que não entende a polémica criada em torno deste assunto. Concebeu Izel para salvar Erine, de 4 anos, que agonizava com uma leucemia e não encontrava um dador de medula óssea compatível. As células estaminais do cordão umbilical da irmã salvaram-lhe a vida.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Saramago na New Yorker

A revista New Yorker publica na edição desta semana uma crítica ao último livro de José Saramago publicado nos Estados Unidos, Death with Interruptions (As Intermitências da Morte, ed. Caminho, 2005). São perto de 3 mil palavras, 16 500 caracteres, quase 5 páginas A4 de crítica - desculpem o meu assombro mas, por cá, ninguém dá este espaço a um livro, até porque a crítica, a boa crítica às artes que tanta falta faz nos nossos jornais, está em vias de extinção. Adiante. A narrativa de Saramago, escreve James Wood, soa «moderna e antiga ao mesmo tempo». E é o seu estilo único que lhe permite «escrever ficções especulativas e fantásticas como se fossem os acontecimentos mais prováveis». Como será ler Saramago em inglês?, dei por mim a pensar. Percebo por esta crítica que os seus parágrafos longos se mantêm, que os pontos finais e as vírgulas não deixam de obedecer a regras próprias. Deixo-vos um excerto (uma única frase...), para matarem a curiosidade:

«Having lived, until those days of confusion, in what they had imagined to be the best of all possible and probable worlds, they were discovering, with delight, that the best, the absolute best, was happening right now, right there, at the door of their house, a unique and marvelous life without the daily fear of parca’s creaking scissors, immortality in the land that gave us our being, safe from any metaphysical awkwardnesses and free to everyone, with no sealed orders to open at the hour of our death, announcing at that crossroads where dear companions in this vale of tears known as earth were forced to part and set off for their different destinations in the next world, you to paradise, you to purgatory, you down to hell.»

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Obama e a avó

Obama interrompeu a campanha eleitoral para ir ao Havai visitar a avó, gravemente doente, como conta a revista Time. Faltam duas semanas para as eleições e, apesar da vantagem que as sondagens lhe garantem, a vitória não é segura. Durante dois dias, os seus rivais terão o espaço mediático por sua conta, o que pode ser arriscado. Obama sabe disso mas escolheu fazer esta viagem, sem jornalistas por perto. No seu livro A Minha Herança (editado em português pela Casa das Letras) conta que o maior erro da sua vida foi não ter estado ao lado da mãe quando ela morreu, vítima de cancro. Obama estava em campanha para o Senado e chegou à cabeceira da sua cama tarde demais. Filho de mãe solteira (o pai, com quem nunca teve uma relação próxima, morreu num acidente de carro no Quénia, em 1982), foi esta avó materna que o criou e que, com grandes sacrifícios pessoais, permitiu que ele estudasse e se tornasse no homem que é hoje. Madelyn Dunham tem 86 anos e seguiu a campanha do neto com especial emoção. Esperemos que viva para ver a sua vitória, a 4 de Novembro.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

ficção e realidade

Três actores do filme Gomorra, que retrata a brutalidade da máfia napolitana**, foram presos e estão a ser investigados por pertencerem, de facto, aquela organização criminosa, conta o Guardian. Roberto Saviano, o autor do livro que inspirou o filme (Gomorra já vendeu mais de um milhão de livros em Itália e o filme, depois de premiado em Cannes, é o candidato italiano ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro), viveu os últimos dois anos sob forte protecção policial mas agora, face à escalada das ameaças do clã Casalesi (as últimas prometiam-lhe a morte como presente de Natal), diz que já não aguenta mais viver em Itália. Na quinta-feira passada anunciou que vai sair do país, sem revelar, obviamente, onde buscará refúgio: «Quero poder andar na rua, disfrutar do sol, passear à chuva, apaixonar-me, ter uma vida.»

** No mês passado, quando o filme estreou em Portugal, o Público descreveu-o assim: «É um mergulho brutal e violento nos meandros dos círculos infernais da Camorra napolitana, com uma crua e incrível precisão. Poder, dinheiro e sangue são os "valores" com que os habitantes de Nápoles se confrontam diariamente. A única linguagem é a das armas e o sangue o vício maior. Viver uma vida normal não é possível para estes habitantes. (...) Uma Camorra ficcionada mas profundamente enraizada na realidade italiana.» O filme (ainda) está em exibição no cinema Nimas, em Lisboa.

domingo, 19 de outubro de 2008

Powell apoia Obama

O ex-Secretário de Estado norte-americano Colin Powell (2001-2005, com Bush) tornou hoje público o seu apoio a Barack Obama no programa da MSNBC «Meet the Press». John McCain, Sarah Palin e o (seu) partido Republicano são duramente criticados, sobretudo pela «campanha agressiva» das últimas semanas. Powell disse lamentar que membros do seu partido ponham a circular rumores falsos sobre as ligações terroristas de Obama ou sobre a sua fé. «Quando alguém insinua que 'Ele é muçulmano', há que corrigir: 'ele é cristão, sempre foi cristão'. Mas a resposta verdadeiramente correcta seria: 'E se for muçulmano, qual é o problema?' A guerra política não pode justificar tudo, tem de haver alguma decência e acho que a campanha de McCain foi longe demais».

sábado, 18 de outubro de 2008

Jornais apoiam Obama

Três dos mais importantes e influentes jornais norte-americanos anunciaram hoje o seu apoio formal a Barack Obama. O Washington Post explica o apoio fazendo notar que a escolha se tornou mais fácil depois da «desapontante campanha» de McCain e da «escolha irresponsável» de Sarah Palin para sua vice-presidente. O Los Angeles Times diz que Obama «é um líder competente e confiante, que representa as aspirações da nação». Razões que levaram o jornal a quebrar um silêncio de mais de 35 anos: o diário não apoiava publicamente nenhum candidato à Presidência desde a eleição de Richard Nixon. O Chicago Tribune faz história de outra forma, apoiando pela primeira vez um candidato democrata: «Temos absoluta confiança no seu rigor intelectual, nos seus valores morais e na sua habilidade para tomar decisões justas e ponderadas.»

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

o factor t

Poderá a personalidade e o temperamento dos candidatos à presidência ser crucial para a escolha dos americanos? Vários analistas dizem que é «o» factor decisivo... E, neste momento, as sondagens dizem que a maioria dos americanos considera que Obama é mais «presidenciável»: é calmo, ponderado e parece saber discutir sem se exaltar. Além disso, tem um sorriso contagiante, que tem usado com mestria, mesmo nos momentos mais adversos.
Chegará? Russell Riley, especialista do Miller Center of Public Affairs, não responde a esta questão mas explicou à Time quais seriam os «ingredientes» ideiais de um futuro presidente: «A decência de Gerald Ford, a disciplina de Jimmy Carter, o optimismo de Ronald Reagan, o instinto diplomático de George H.W. Bush, a curiosidade intelectual de Bill Clinton e a determinação de George W. Bush.»

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ah, tigre!

Aravind Adiga venceu hoje o Man Booker Prize, o mais importante prémio literário em língua inglesa, com o seu primeiro romance, White Tiger. Adiga vive em Bombaim, tem 33 anos e é (foi?) jornalista, colaborando com a revista Time e vários jornais diários ingleses. Como conta o Guardian, a atribuição deste prémio é uma surpresa: a aventura indiana de «Tigre Branco» impôs-se numa short list de peso (ao lado de Sebastian Barry, Amitav Ghosh, Linda Grant, Philip Hensher e Steve Toltz), que já deixava para trás nomes consagrados como Salman Rushdie...

Aqui fica um excerto do livro vencedor:

«Now, I no longer watch Hindi films - on principle - but back in the days when I used to, just before the movie got started, either the number 786 would flash against the black screen - the Muslims think this is a magic number that represents their god - or else you would see the picture of a woman in a white sari with gold sovereigns dripping down to her feet, which is the goddess Lakhshmi, of the Hindus.
It is an ancient and venerated custom of people in my country to start a story by praying to a Higher Power. I guess, Your Excellency, that I too should start off by kissing some god's arse.
Which god's arse, though? There are so many choices.
See the Muslims have one god. The Christians have three gods. And we Hindus have 36,000,000 gods.
Making a grand total of 36,000,004 divine arses for me to choose from.
Now there are some, and I don't just mean Communists like you, but thinking men of all political parties, who think that not many of these gods actually exist.
Some believe that none of them exist. There's just us and an ocean of darkness around us. I'm no philosopher or poet, how would I know the truth? It's true that all these gods seem to do awfully little work - much like our politicians - and yet keep winning re-election to their golden thrones in heaven, year after year.»

domingo, 12 de outubro de 2008

O outro McCain

Mentiroso. Desonesto. Oportunista. Estes são alguns dos mimos com que a Rolling Stone descreve o candidato presidencial John McCain num longo artigo de investigação, recuperando inúmeras histórias «sujas» do seu passado. Faltam três semanas para as eleições...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

todos iguais?

Previsivelmente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi hoje chumbado no Parlamento português. No mesmo dia em que, do outro lado do Atlântico, esse «contrato de amor» passou a ser permitido em mais um Estado norte-americano, o de Connecticut. Tal como conta o New York Times, o Supremo Tribunal entendeu que «o Estado não tem como justificar porque exclui da instituição do casamento os casais do mesmo sexo».
Claro. Lá, como cá, é ofensivo para uma sociedade que se reclama democrática e respeitadora dos direitos individuais dos seus cidadãos. E é inconstitucional. Mas isso, como se nota pelo ar enfadonho que põem os nossos políticos sempre que se fala no assunto, não interessa nada.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

leitura da semana

Fala-se muito de como esta é a maior crise mundial desde a Grande Depressão. Mas o que aconteceu então? Como saiu o mundo dessa crise? O que pode a História ensinar-nos? Um texto simples, curto, esclarecedor, The End of Prosperity?, explica tudo. A ler, nesta edição da Time.

And the winner is... That One!

Quando McCain se referiu a Obama usando a expressão «that one» não pensaria, de certeza, que a sua má educação estaria, no dia seguinte, imortalizada em t-shirts de campanha... Já há um site dedicado ao tema, onde a biografia de Obama é adaptada ao momento da campanha: a ler em http://www.thatone08.com/. E até o influente jornal online The Huffington Post, numa nota de bom humor, decidiu abraçar o movimento dizendo que o vencedor do debate de ontem foi... é claro, That One!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

NY state of mind...



O New York Times publicou o seu Suplemento de Moda Masculina/Outono 2008. Bom, por cá talvez fosse mais um daqueles «encartes» que ia direitinho para a reciclagem... Mas o NYT publica sempre revistas que apetecem guardar, como já devem ter percebido pelas vezes que as destaco neste blog...! Infelizmente, não chegam cá em papel. Valha-nos a Santa Internet, que nos deixa ver estas páginas maravilhosas.
A capa começa logo por agarrar-nos. E lá dentro, descobrimos Javier Bardem, chorando. A legenda dirá que veste um casaco Tom Ford, mas... who cares? A acompanhar as belas fotos de Jean-Baptiste Mondino, há ainda uma interessante entrevista de Lynn Hirschberg, às voltas com a participação do espanhol no novo filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona.
A revista revela-nos muito mais do que as tendências da moda. Fala-nos de arte, de política, de música e até de publicações novas, como a Tar, um tesouro bi-anual que vou querer comprar assim que aterrar outra vez em Nova Iorque. Enquanto isso não acontece, é bom poder matar saudades folheando estas páginas...