segunda-feira, 28 de setembro de 2009

João Pina na New Yorker

John Lee anderson escreve, o «nosso» João Pina fotografa. Uma reportagem de excelência, sobre as favelas do Rio de Janeiro, a descobrir na New Yorker de 5 de Outubro. Espreitem aqui, para ouvir e ver uma parte do trabalho. Vale mesmo a pena.

sábado, 26 de setembro de 2009

Salgado... e o tempo


Tempo. A ditadura destes dias velozes fazem-nos sentir inferiores, fracos e ultrapassados quando pedimos mais. Mas é mesmo preciso tempo para fazer bem. Corrijo: é fundamental. E é urgente.
Só hoje tive tempo para descobrir esta entrevista de Sebastião Salgado ao jornal brasileiro Estadão, a propósito da última viagem que o fotógrafo fará para concluir o projecto Génesis, iniciado em 2004, nas Galápagos. Desta vez irá de barco até à Geórgia do Sul, contornando as Malvinas. Durante dois meses, realizará a última de 33 reportagens, procurando os últimos lugares intocados pelo homem, nos cinco continentes.

Salgado sempre exigiu tempo para desenvolver a sua arte. Ele hoje sabe que precisa de várias semanas até que os índios de uma tribo o aceitem (e à sua máquina) mas já o pedia quando aceitava «encomendas» de grandes jornais, como se percebe quando recorda o serviço que fez para o New York Times, que lhe pedira um retrato de Italo Calvino:


«Viajei até Roma, me instalei num hotel e fui para a casa do escritor. Apertei a campainha, Italo veio até a porta e perguntou se eu era o fotógrafo do Times. Daí indagou quanto tempo eu precisaria para o serviço, já dizendo que uma hora estaria de bom tamanho. Eu expliquei: "Não, preciso de três dias." Ele reagiu de pronto, disse que jamais daria três dias da vida dele para mim ou para o Times. E eu rebati, então não dá para fazer. Estávamos nessa discussão quando chegou a mulher dele, uma argentina decidida, e botou ordem no pedaço. Não só ordenou ao Italo que ficasse à minha disposição o tempo que fosse preciso, como ordenou que eu me mudasse para a casa deles. Fotografei-o em casa, pelas ruas de Roma, fui para a casa deles em Paris, assim nasceu uma amizade que durou a vida inteira do Italo. Retrato precisa de tempo. E quem me pede para fazer um já sabe disso.»

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

leitura da semana

Empolgante, interessante a cada linha, com mistério q.b. e muito, muito bem escrito. Poucos textos me deram tanto prazer este ano como este The Holy Grail of the Unconscious, capa da revista de domingo do New York Times, sobre as revelações que poderá conter o mítico Livro Vermelho do psiquiatra Carl Jung.
O livro, escrito há quase 100 anos e fechado num cofre de um banco suíço durante 23 anos, viu a luz do dia em 2007 e foi entregue pela família de Jung a especialistas, que têm estado a preparar a edição do manuscrito. Apesar da popularidade das suas teorias - que, a par de Freud, revolucionou a forma como analisamos os nossos comportamentos -, só meia dúzia de «escolhidos» tiveram a oportunidade de ler a obra.
A jornalista Sara Corbett falou com todos os personagens principais desta história, desvendando os caminhos das anotações do mestre suíço ao longo das últimas décadas e antecipando um pouco do que, em breve, todos teremos a oportunidade de ler. E até partilha alguns dos sonhos que teve durante a sua investigação...

domingo, 20 de setembro de 2009

Pitt em versão Tarantino


Ontem fui ver Sacanas Sem Lei, o último de Tarantino. Fiquei de queixo caído com a actuação de Christoph Waltz (no papel de um coronel das SS, Hans Landa) mas Brad Pitt também brilha como Aldo Raine, o líder dos «bastardos» caça-nazis. Uma vez mais, num invulgar registo de comédia, que lhe assenta tão bem, como já havia demonstrado no filme dos irmãos Coen, Destruir Depois de Ler.
A revista do El País publica hoje Oficio de Estrella, relato de um encontro com o actor, em Cannes.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Crimes de guerra em Gaza

«The prolonged situation of impunity has created a justice crisis in the Occupied Palestinian Territory that warrants action»

Esta é apenas uma das muitas frases fortes do relatório das Nações Unidas, hoje divulgado, sobre os crimes de guerra cometidos em Gaza (e possíveis crimes contra a Humanidade), pelas tropas israelitas. Mas o dedo também é apontado a grupos armados palestinianos.
O assunto merece destaque na primeira página do New York Times de hoje.

Li já uma parte do documento, em busca de notícias sobre o clã Samouni, cuja história contei na Visão, em Janeiro, na reportagem Terra Fértil para Mártires. O que diz a ONU sobre o desaparecimento daqueles 35 membros de uma só família, mortos num só dia?
Diz que considera «as mortes daqueles civis injustificadas», em violação de todas as regras. Eram apenas agricultores.

E agora? Israel já declarou, por diversas vezes, que não aceita a criação de um tribunal internacional para julgar crimes de guerra. Foram criadas comissões de inquérito internas, no seio das Forças Armadas hebraicas, embora a sua independência deixe muito a desejar...

Era importante que as «Nações Unidas» agissem de alguma forma, contra tamanhos atropelos dos Direitos Humanos. Ali, no Médio Oriente, como em tantos países de África, ou nos Estados Unidos, onde reina a impunidade. Escrever relatórios, aprovar resoluções e fazer condenações públicas não é, como está visto e provado, o suficiente.

Aqui ficam alguns excertos que me impressionaram particularmente:

- The timing of the first Israeli attack, at 11:30 am on a week day, when children were returning from school and the streets of Gaza were crowded with people going about their daily business, appears to have been calculated to create the greatest disruption and widespread panic among the civilian population.

- The treatment of many civilians detained or even killed while trying to surrender is one manifestation of the way in which the effective rules of engagement, standard operating procedures and instructions to the troops on the ground appear to have been framed in order to create an environment in which due regard for civilian lives and basic human dignity was replaced with the disregard for basic international humanitarian law and human rights norms.

- The repeated failure to distinguish between combatants and civilians appears to the Mission to have been the result of deliberate guidance issued to soldiers, as described by some of them, and not the result of occasional lapses. The Mission recognizes that some of those killed were combatants directly engaged in hostilities against Israel, but many were not.

- It is clear from evidence gathered by the Mission that the destruction of food supply installations, water sanitation systems, concrete factories and residential houses was the result of a deliberate and systematic policy by the Israeli armed forces. It was not carried out because those objects presented a military threat or opportunity but to make the daily process of living, and dignified living, more difficult for the civilian population.

- Allied to the systematic destruction of the economic capacity of the Gaza Strip, there appears also to have been an assault on the dignity of the people. This was seen not only in the use of human shields and unlawful detentions sometimes in unacceptable conditions, but also in the vandalizing of houses when occupied and the way in which people were treated when their houses were entered. The graffiti on the walls, the obscenities and often racist slogans all constituted an overall image of humiliation and dehumanization of the Palestinian population.

- What occurred in just over three weeks at the end of 2008 and the beginning of 2009 was a deliberately disproportionate attack designed to punish, humiliate and terrorize a civilian population, radically diminish its local economic capacity both to work and to provide for itself, and to force upon it an ever increasing sense of dependency and vulnerability.

domingo, 13 de setembro de 2009

As eleições em Portugal... vistas de Angola

Interessante este editorial de José Ribeiro, director do Jornal de Angola...

Campanha à portuguesa
Portugal está em plena campanha eleitoral para as legislativas, às quais se seguem as eleições autárquicas. Pelos ecos que nos chegam a campanha vai animada e cada partido representado na Assembleia da República faz tudo para convencer o eleitorado a dar-lhe a confiança do voto. O que se passa em Portugal é igual ao que se passa em todo o mundo e exactamente o mesmo que aconteceu em Angola há um ano, quando os angolanos foram às assembleias de voto escolher o partido que devia governar o país. Digo que é tudo igual, mas há algumas diferenças que quero evidenciar. Angola não mandou maquilhar jornalistas para irem a Portugal perturbar o processo eleitoral, destabilizar o eleitorado e fazerem campanha contra um dos partidos concorrentes às eleições. Não mandou jornalistas para curas de emagrecimento para depois em Portugal se colocarem ao lado dos que escondem a pobreza envergonhada nas bicas do café. Não entramos nessas operetas ridículas e respeitamos todos os povos e todos os países de mundo, mesmo aqueles que promovem atropelos à ética global. Os angolanos vão recebendo notícias da campanha eleitoral em Portugal e os órgãos de informação nacionais guardam a distância que se impõe para marcar a diferença entre o que alguns órgãos de informação portugueses fizeram há um ano e o que fazemos nós, agora. Quem quiser aprender a lição, que aprenda. Quem não quiser pode continuar a mostrar que vale muito pouco. Os ecos que nos chegam da campanha eleitoral em Portugal trazem uma vez mais declarações estranhas sobre Angola. Há quem esteja interessado em envolver o nosso país na disputa eleitoral em Lisboa, fazendo declarações a roçar o insulto. Se respondêssemos, fazíamos um grande favor aos detractores. Por isso, nem respondemos nem nomeamos. Apenas registamos que em Portugal há políticos que não conseguem dormir descansados enquanto existirem empresas e empresários angolanos a fazerem o seu trabalho. E por qualquer razão que não interessa aqui referir recusam ou ficam preocupados com a entrada de capitais angolanos em empresas ou grupos económicos portugueses. E dizem isso em debates eleitorais. Há neste comportamento uma tendência para quem está desprovido de qualquer ética querer dar lições a Angola. Só assim se compreende quem ignora os casos de corrupção, clientelismo, nepotismo, má gestão, pedofilia, que vieram a público em Portugal. Para não falar da tentativa aberta de domesticação dos órgãos de informação por grandes grupos económicos ou aparelhos partidários. Mal se percebe que tendo os países da Europa e os EUA mergulhado o mundo na mais grave crise financeira de todos os tempos, que governos democráticos já tenham privatizado no Ocidente mais de 60 bancos, que tenha vindo a público tanto escândalo político, tanta corrupção, ainda existam em Lisboa políticos apontando o dedo ao nosso país, que vai conseguindo, com muito esforço, reparar o que foi destruído e até agora tem conseguido enfrentar a crise como sabe. Os que tentam arrastar Angola para a campanha eleitoral em Portugal mereciam uma resposta à letra, quanto mais não seja pela falta de pudor. Mas até ao contar dos votos, vamos ficar em silêncio. Até porque temos esperanças de que os eleitores portugueses lhes dêem, por nós, a resposta merecida.

Província de Espanha?

E pronto, «nuestros hermanos» já estão a falar no assunto...
«'No me gustan los españoles metidos en la política portuguesa, estoy defendiendo los intereses de Portugal, que no es una provincia de España', enfatizó Manuela Ferreira Leite, exaltada, en el debate», escreve esta noite o El Mundo.
Também o El País destaca as declarações da líder do PSD, escrevendo que «la conservadora Ferreira Leite critica al primer ministro Sócrates por considerar a su país 'como una provincia española'».

sábado, 12 de setembro de 2009

Clima de mudança?



Na capa da Foreign Affairs, a contagem decrescente para a cimeira de Copenhaga, onde os líderes mundiais tentarão chegar a um acordo que suceda ao de Quioto, definindo novas metas no combate às alterações climáticas. As expectativas são grandes. Depois da eleição de Barack Obama, espera-se que os EUA se comprometam, finalmente, nesta batalha global. O Japão, tentando dar o exemplo, anunciou já estar disposto a reduzir 25% das suas emissões até 2020. E o secretário-geral da ONU disse esta semana, de forma clara e contundente, que já chega de blá-blá. É tempo de mudar radicalmente de curso: «Apesar das evidências, apesar da ciência, apesar dos apelos de economistas, continuamos a ter de lidar com a inércia. Temos o pé colado a fundo no acelerador e dirigimo-nos para o abismo.»
Dos vários artigos que abordam o assunto nesta edição da Foreign Affairs, recomendo especialmente a leitura de The Other Climate Changers, assinado por dois peritos na matéria, alertando para a importância de discutir as reduções de emissões de outros gases, além do CO2.

domingo, 6 de setembro de 2009

Arctic Sea «desviado» pela Mossad?

O Sunday Times escreve hoje que o Arctic Sea, o navio desviado por «piratas» e que esteve desaparecido durante várias semanas, carregaria mísseis S-300 para o Irão, vendidos por militares russos com ligações ao mundo do crime - e não apenas madeira, como as autoridades insistem em dizer. A Mossad, que monitoriza de perto todas as tentativas de compra de armas por parte do Irão, terá avisado o governo russo e, para obrigar à sua intervenção, terá influenciado, ou mesmo encenado, o ataque de piratas. «Assim que rebentaram as notícias do desvio do navio, o jogo acabou para os negociantes de armas e a Rússia viu-se obrigada a actuar», diz fonte militar ao jornal.
Depois do Arctic Sea ter sido recuperado, Shimon Peres encontrou-se com Dmitry Medvedev, em Moscovo. Israel admitiu que os dois líderes discutiram a venda de armas russas a países hostis a Israel.

À conversa com os talibans

(Foto: Sergio Caro/El País)

O jornalista David Beriain entrevistou, durante meses, vários líderes talibans no Afeganistão, tentando perceber quem eram os homens que atacavam os soldados espanhóis no território. Como se percebe lendo Cara a cara con los talibanes, no El País de hoje, o jornalista acabou por perceber que a nacionalidade não era tida em conta pelos insurgentes. No caso concreto de um ataque realizado em Novembro de 2008, que matou dois espanhóis, foi o mullah Fateh Mohamed que deu as ordens e não podia ser mais claro:
«Não sabíamos que eram espanhóis ou de outro país. Isso não é importante para nós. O importante é que eram estrangeiros. Mas tenho uma mensagem para os espanhóis, em especial para as famílias dos soldados que morreram. Devem pedir ao governo espanhol que se retire do Afeganistão porque este é um país muçulmano, um país islâmico, e estamos contra a presença de estrangeiros aqui. Se não se vão embora, continuaremos a atacá-los.»
Portugal tem cerca de 150 militares no Afeganistão e reforçará a sua presença em 2010, com mais 150 homens de uma companhia dos Comandos. No início de 2008 foi desmantelada uma célula de islamistas radicais em Barcelona, quando os seus membros se preparavam para realizar uma série de atentados contra países europeus - Portugal estava entre os alvos, devido à sua presença militar no Afeganistão.

sábado, 5 de setembro de 2009

O que diz o El País sobre o caso TVI

O El País pertence à Prisa - o mesmo grupo espanhol que (ainda) é dono da TVI. Hoje publica uma tímida notícia sobre o cancelamento do Jornal Nacional de sexta-feira, conduzido por Manuela Moura Guedes, depois do concorrente El Mundo e outros meios de comunicação espanhóis terem abordado ontem o caso que está a abalar a campanha eleitoral em Portugal. O El País fala do assunto mas... apenas a meio de um artigo cujo título é La campaña de Portugal arranca con un aluvión de debates. O ângulo escolhido pelo jornalista (?) Frances Relea foi destacar os dez «duelos» televisivos entre os candidatos, e só depois vem, en passant, o que mais interessa:
«(...) En esta "batalla preelectoral", una decisión empresarial se ha convertido en el tema que acapara la atención de políticos y los medios. La noticia se produjo cuando la cadena de televisión TVI, cuyo accionista mayoritario es el grupo PRISA -editor de EL PAÍS-, comunicó el cambio de formato del telediario de los viernes para homogeneizarlo con los informativos del resto de la semana. La decisión implicaba la salida de Manuela Moura Guedes como directora del Jornal Nacional de Sexta (telediario del viernes). Varios directivos del área de informativos de TVI dimitieron en solidaridad con la periodista. Se da la circunstancia de que el Jornal de Sexta se ha caracterizado por su crítica feroz al Gobierno socialista y, especialmente, a la figura del primer ministro, que llegó a calificar dicho telediario de periodismo travestido. Las reacciones de políticos, candidatos y comentaristas se produjeron en cadena y, en cuestión de horas, no sólo TVI y PRISA, sino "España" y "los españoles" se convirtieron en protagonistas involuntarios de la campaña electoral y del fuego cruzado entre los candidatos.»

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

leitura da semana


Afinal, parece que é bom sermos mal comportados...! Explica a Psychology Today, em Wholesome Guide to Misbehaving: «O mau comportamento, ou agir de formas que, regra geral, veríamos como impróprias, pode ser bom para a alma. Pode melhorar o nosso humor, deixar-nos com uma sensação de liberdade, estimular a criatividade e deixar boas memórias».
É claro que os «maus comportamentos» a que se referem são «diatribes» que não chateiam mais ninguém. Estamos a falar de gente que se pisga do trabalho para se enfiar um dia inteiro num spa, não de quem vai ali roubar uma velhinha e já volta...
O tema de capa, Mixed Signals, também é muito interessante, fala-nos dos «sinais contraditórios» que enviamos para quem nos rodeia e sobre as percepções, quase sempre erradas, que temos de nós próprios. Em Secondhand blues aborda-se o facto de a depressão ser contagiosa. É mesmo, acreditem. E há ainda um artigo sobre a procrastinação, essa arte de adiar, adiar, adiar... Como sempre, mais um grande número para ler, analisar e, quem sabe, mudar a nossa vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A fonte da guerra...

A princípio, não queria acreditar. Mas sim, lendo este artigo da Time pela segunda vez, consegui fechar a boca e perceber que não era uma piada, era mesmo verdade: há uma petição internacional a dar grandes dores de cabeça à IKEA porque a companhia teve a ousadia (!) de mudar o tipo de letra que sempre usou, uma versão estilizada da fonte Futura, para a corriqueira Verdana...
A 26 de Agosto, escreve a Time, havia mais discussão no Twitter sobre a gaita da fonte do que sobre qualquer outro assunto - superando, inclusive, a notícia da morte de Ted Kennedy. Vá-se lá perceber este mundo.