quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Mais perto?


Ainda a propósito da fabulosa descoberta dos negativos de Robert Capa... Os 127 rolos dizem respeito ao período que o fotógrafo passou em Espanha, documentando a guerra civil. Os investigadores da sua obra estão especialmente excitados com este facto pois acreditam que, agora, será finalmente possível esclarecer a dúvida que sempre pairou sobre uma das suas mais emblemáticas fotografias: a Morte de um Miliciano.


Sobre este assunto, escrevi um artigo na Visão, em parceria com o fotógrafo Bruno Rascão, em 2006:


A história que conhecemos diz-nos que Robert Capa estava perto. Tão perto que captou o instante em que um soldado republicano foi atingido por fogo inimigo, nos arredores de Córdoba. Esse momento, captado pela sua Leica III (G), tornou-se na imagem-ícone da guerra civil espanhola (1936-39) e marcou o início da carreira de um dos maiores fotógrafos de guerra de todos os tempos.
Mas poderá a Morte de um Miliciano, a fotografia que o ministro da Cultura espanhol equiparou a Guernica, de Picasso, ter sido encenada? A dúvida paira sobre o trabalho de Capa, desde sempre. Contudo, só na última década se desenvolveram esforços para descobrir a verdade. O local da foto, por exemplo, só há três anos obteve o consenso dos investigadores. E a hora a que foi realizada, bem como a identidade do soldado, continuam a dividir opiniões
. (Ler artigo na íntegra)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

As malas mexicanas


Há dias assim, em que as notícias que nos aceleram o coração apetecem ser gritadas ao mundo. Boas notícias. Que coisa tão rara.

O New York Times publica um artigo notável sobre o assunto, no dia em que o Centro Internacional de Fotografia de Nova Iorque anunciou a descoberta de 127 «novos» rolos de Robert Capa. São mais de 3 000 fotografias que se julgavam perdidas para sempre.

Capa tinha-os entregue ao seu amigo Imre Weisz, em Paris, em 1939 ou 1940, quando abandonou a Europa, esperando que, assim, os rolos fossem salvos. Mas Weisz foi preso, pouco depois, e enviado para um campo de detenção na Argélia. Robert Capa morreu julgando que o seu trabalho tinha sido destruído durante a invasão nazi. Mas, inexplicavelmente, os negativos foram resgatados pelo general Aguilar González, diplomata em Marselha, que os levou para o México.

Talvez o militar nem soubesse verdadeiramente o que tinha em mãos pois até à data da sua morte, em 1967, nunca revelou possuir esse «tesouro». Só em 1995 começam a surgir rumores da sobrevivência das três maletas de Capa, onde se incluíam também negativos do trabalho de Gerda Taro (a primeira mulher fotógrafa de guerra) e de David Seymour (conhecido como Chim), com quem Capa viria a fundar a agência Magnum.

Um descendente do general, realizador de cinema, descobriu as malas e contactou diversas instituições internacionais, tentando que o seu conteúdo tivesse o melhor destino. Depois de 12 anos de longas negociações, o património foi entregue à instituição fundada por Cornell Capa, irmão de Robert. E a todos nós.

sábado, 26 de janeiro de 2008

This is not a drill

«Todas as ameaças de terrorismo islâmico que já analisámos são, comparadas com esta, meros fait-divers. Desta vez, sim, falamos de uma ameaça real e directa a Portugal.» Cada palavra, dita de forma pausada, entre mais um golo de café, num pacato bairro de Lisboa, é ponderada por este alto quadro dos serviços secretos portugueses. Confrontado com muitas das notícias anteriores, anunciando estranhas movimentações de radicais islâmicos em território português, afastava o alarmismo com um sorriso. Mas agora também ele está em alerta.
As informações partilhadas pelo Centro Nacional de Inteligência (CNI) de Espanha, na sequência da detenção de 14 radicais islâmicos em Barcelona, no passado dia 19, foram poucas – mas suficientes para (...) estabelecer ligações entre elementos radicais de outros países e descortinar parte dos seus planos futuros – que passariam por realizar atentados bombistas contra cinco alvos: Espanha, França, Inglaterra, Alemanha e… Portugal. O motivo, conforme adiantaram os espanhóis aos serviços secretos portugueses, é apenas um: a presença de forças militares destes países no Afeganistão.

In Visão, 24 Jan 2008


"¿Llevaremos chalecos explosivos?, preguntó el suicida a sus compañeros. Y uno de los jefes respondió: "El artefacto lo llevaremos en una mochila o una bolsa y una tercera persona los detonará con un mando a distancia".

Su compañero de suicidio sería Imran Cheema, también detenido, y ellos actuarían en Barcelona. Otras dos parejas más de suicidas lo harían también en España, y Akeel Abbassi atentaría supuestamente en Alemania, pero el testigo ignora dónde y cuándo. Sobre el supuesto atentado previsto en Francia, sus compañeros yihadistas le confesaron que lo perpetrarían tres personas, mientras que el de Portugal lo harían dos.

In El Pais, 26 Jan 2008

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

«Uma saidinha para Castedo, pode ser?»

Homem, 44 anos, caiu das escadas, o irmão diz que «está morto». Freguesia de Castedo, Alijó. A comunicação entre o CODU, a viatura do INEM de Vila Real e os bombeiros de Favaios e de Alijó são inacreditáveis. Poderia ter piada se fosse um sketch dos Gato Fedorento. Mas são 14 minutos arrepiantes, reveladores do caos que reina na assistência médica de emergência deste país. Quem tiver coragem pode ouvi-los aqui, tal como a SIC ontem revelou, ao país e ao mundo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Por um dia, a liberdade

Como alguém um dia tão bem descreveu, Gaza é a maior prisão do mundo. Mas ontem, por umas horas, milhares de palestinianos escaparam ao cerco imposto por Israel. Parece mentira, mas, segundo conta o Times, este acontecimento extraordinário foi possível porque militantes do Hamas, depois de meses a tentarem criar uma «brecha» no muro que separa a fronteira com o Egipto, usando um maçarico (!), decidiram tomar medidas drásticas e... fizeram-no explodir. Foi tudo documentado pela Al Jazeera e a reportagem, que podem ver aqui, vale mesmo mais que mil palavras.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ainda e sempre, Gaza


Poucos parecem importar-se. Mas a Faixa de Gaza continua a agonizar. Uns dias são piores do que outros, consoante os humores de Israel. Já não bastava o desemprego, a falta de alimentos, a escassez de medicamentos. Agora também lhes cortaram a luz.

Mas, mesmo às cegas, aquele povo veio para a rua, de vela na mão, gritando a plenos pulmões contra a injustiça que rege as suas vidas. A culpa da sua desgraça, dizem, não é do Hamas. Nunca simpatizarei com o movimento extremista mas a verdade é que o mundo ocidental, aquele que se diz democrático, acaba por dar-lhe força sempre que ignora (e permite) estes abusos de Israel. Já dizia o profeta, o mais cego é aquele que não quer ver.


P.S. Escolho, em jeito de homenagem, recordar hoje o trabalho de Alexandra Boulat, fotojornalista francesa que documentava, desde o início dos anos 90, o dia-a-dia dos palestinianos. Morreu a 5 de Outubro, na sequência de um aneurisma. Tinha 45 anos. A marca apaixonada do seu trabalho ficará na memória de todos quantos viram as suas imagens, simultaneamente belas e incómodas. Um ensaio fotográfico sobre Gaza (comentado pela própria para a revista Time), pode ser visto aqui