sábado, 31 de outubro de 2009

Madoff e o Halloween


«Why main street hates Wall street», ou, numa tradução livre, porque é que o povo odeia os grandes especuladores da bolsa: eis o tema de capa da Time, publicada na véspera de um Halloween em que a máscara mais popular nos EUA é a de... Madoff, pois claro, um dos homens que fez o planeta apertar (ainda mais) o cinto. O Frankenstein que se cuide, é difícil imaginar monstro mais assustador que o «papa-dólares»...

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Freedom

Todos já passámos por isto: iniciamos uma pesquisa na Internet, descobrimos outros assuntos paralelos (estejam ou não ligados ao nosso objectivo inicial...) e, quando damos por isso, o tempo voou! Para aumentar a produtividade, há cada vez mais pessoas a optar por um isolamento forçado, recorrendo a um programa informático que bloqueia o acesso à Internet durante 8 horas.
Sim, para a maioria não chega desejar não aceder à net... Com o símbolo do globo a girar no canto inferior do nosso ecrã, é difícil resistir. Será que o-não-sei-quantos me respondeu ao e-mail? O que é um palíndromo? Vou só fazer uma pausa e espreitar o facebook... Tentações não faltam.
Para evitar as distracções, escreve Peggy Orenstein no New York Times, já há mais de 4 mil pessoas a fazer mensalmente o download deste programa (que só funciona em Mac), impondo a proibição de acesso. Curiosamente, a aplicação chama-se Freedom... Será que existe para PC? Vou investigar...

domingo, 25 de outubro de 2009

Violência no Rio

(Foto: João Pina)

Na semana em que a violência voltou a explodir nas favelas brasileiras, destaco novamente o trabalho do fotógrafo português João Pina, publicado há um mês na New Yorker. Hoje, são as suas imagens do Rio que voltam a acompanhar outra grande reportagem, desta vez na revista do El País.
Em Rio de Janeiro, Ciudad de Dios y del Diabo, o jornalista Bernardo Gutierrez leva-nos pela mão, pelas ruelas das zonas mais pobres e perigosas da cidade, apresentando-nos as pessoas que ali vivem. Ou aquelas que, pura e simplesmente, por força do do ofício, têm de conviver com aquela brutal realidade.

«Antonio conduce el rabecão, una furgoneta de los bomberos militares de Río. El teléfono sonó hace un rato, como cada hora. La Policía Militar le informó dónde recoger el muerto. "Tenemos 40 minutos para retirar los cadáveres de la vía pública", dice. Tiene 30 años. Hace seis que recoge muertos casi a diario. "Viví rebeliones en prisión, masacres". Todavía no sabe que hoy le espera un cuerpo totalmente quemado con un olor insoportable. Hace unos días fue peor: una mujer embarazada con dos tiros en la espalda.
Varias veces al día, "el taxi del más allá" de Antonio (como llaman al rabecão) entra en el Instituto Médico Legal, en la céntrica calle del Riachuelo. Las paredes de la morgue están forradas de fotos de desaparecidos. Marcelo Sampaio, 26 años. Alex Alves, 17 años. Hay anuncios de funerarias 24 horas. "Llegan entre 20 y 30 todas las noches", confiesa un hombre que lleva 18 años repitiendo su ritual: esperar "el taxi del más allá". Empujar el presunto (jamón), como llaman a los muertos. Y dejarlo en el depósito de cadáveres, en fila, a la espera de una autopsia.»


As fotos do João Pina podem ser vistas aqui e aqui. Este trabalho, que desenvolveu nos últimos dois anos, sob o título Gangland, estará em exposição na KGaleria, em Lisboa, a partir de 5 de Novembro.

sábado, 24 de outubro de 2009

By the People - The election of Obama

Na véspera do dia em que se celebrará o primeiro ano da eleição de Barack Obama, a HBO transmitirá um documentário que não quero perder. Podem saber porquê, vendo o trailer de By the people.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Últimas palavras


Michael Graczyk é jornalista da Associated Press e tem uma missão invulgar: é ele que cobre todas as execuções no Texas, o Estado norte-americano com a maior taxa de condenações à morte. Desde o início dos anos 80, já assistiu a mais de 300 execuções e, não raras vezes, é a única pessoa na sala, além dos guardas prisionais, a ouvir as últimas palavras dos condenados. Uma história a ler no New York Times.

Jack Nelson (1929-2009)

Morreu ontem Jack Nelson, um dos melhores jornalistas norte-americanos, vencedor de um prémio Pulitzer. Nelson fez a sua carreira em Washington ao serviço do Los Angeles Times, tendo revelado detalhes fundamentais do caso Watergate, mas começou a trabalhar no Sul dos EUA, cobrindo com risco para a própria vida o movimento dos direitos civis naquela região, nos anos 60. Fez também várias reportagens sobre o Ku Klux Klan, que deram, mais tarde, origem a um livro. Foi um dos 13 fundadores do Reporters Committee for the Freedom of the Press, instituição que, nos últimos 40 anos, tem sido uma referência no apoio moral e jurídico aos jornalistas norte-americanos.
Já reformado, continuava a acompanhar o que se passava no meio, sendo muito crítico em relação ao peso crescente da opinião e do entretenimento nos jornais. Defendia que as pessoas procuram os jornais por uma única razão: factos.
«Os leitores querem descobrir factos que desconheciam e, de preferência, factos que alguém não queria que fossem conhecidos.»

terça-feira, 20 de outubro de 2009

leitura da semana II


Ainda faltam três semanas para a efeméride mas a imprensa mundial já começou a dar-lhe páginas e páginas de atenção. Falo dos 20 anos sobre a queda do muro de Berlim, sem dúvida um dos acontecimentos mais marcantes do séc. XX.
A revista deste domingo do El País, inteiramente dedicada ao tema, é mais uma daquelas edições para guardar, com grandes entrevistas e reportagens, acompanhadas por belíssimas imagens - algumas históricas, outras concebidas para esta edição especial. A descobrir integralmente online, aqui.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

leitura da semana

A nova aventura do irreverente chef britânico é... na América. A revista do New York Times segue os primeiros passos de Jamie Oliver na região metropolitana de Huntington-Ashland, a mais «doente» dos EUA, com 50% de obesos.
Uma oportunidade para desenhar o perfil do cozinheiro-missionário, que se tornou famoso aos 23 anos, com um programa de tv divertido e despretensioso, devolvendo a alegria de cozinhar a milhões de pessoas. Oliver podia ficar-se por aí, gozando a fama e o sucesso, mas quis ir mais longe. Revolucionou as refeições escolares no seu país, conseguindo que o governo investisse mil milhões de euros em almoços mais saudáveis e equilibrados; atacou a indústria de comidas processadas, incentivando-as a usar menos açúcar e gorduras; e criou um programa de apoio a jovens com problemas sociais, pagando-lhes os estudos.
Agora, quer que os americanos voltem a cozinhar - a maioria compra fast food ou comida pré-congelada... and that's it. Os resultados estão à vista: excesso de peso, problemas cardiovasculares, diabetes, etc, etc.
Não sei se Jamie Oliver terá sucesso mas esta sua nova missão, que será acompanhada pelas câmaras de tv, para um programa intitulado «Food Revolution», vai deixar seguramente as suas marcas. E a verdade é que ele tem razão: precisamos mesmo de repensar toda a forma como produzimos e confeccionamos aquilo que comemos.

domingo, 11 de outubro de 2009

Prémios Bayeux


Como sabem todos os que acompanham este blog, raramente uso este espaço para falar de mim ou do meu trabalho. Mas, sobretudo depois desta notícia na Visão, e de outras na imprensa nacional, sinto que devo abrir uma excepção para partilhar convosco a felicidade de ter sido uma das dez jornalistas seleccionadas pelo júri dos Prémios Bayeux-Calvados para Correspondentes de Guerra.

Na quinta-feira passada viajei para Bayeux, na Normandia (a primeira cidade libertada na Segunda Guerra Mundial, na sequência do Dia D) para me juntar a dezenas de jornalistas de todo o mundo - repórteres do Times, do Figaro, da BBC, do El País, os melhores nesta difícil missão de reportar o que se passa em zonas de conflito.
A «julgar» os trabalhos, durante dois dias, esteve reunido um júri de luxo, presidido pelo fotojornalista Patrick Chauvel e composto por 50 profissionais do New York Times, Independent, Nouvel Observateur, Paris Match, Le Monde, Repórteres Sem Fronteiras, CNN, Reuters...

Viajei com o coração cheio de alegria mas vazio de expectativas. Sem falsas modéstias, conheço as minhas limitações - e as limitações das condições em que trabalho. Sei que parece uma frase feita, mas já era mesmo uma vitória estar entre os nomeados: não só fui a primeira jornalista portuguesa a ser escolhida pelo júri, desde que o prémio foi instituído, como a reportagem Gaza: terra fértil para mártires, foi a única a ser seleccionada entre os trabalhos de dezenas de enviados especiais que cobriram a guerra naquele território, no início deste ano.

É por isso que, não tendo ganho, não sinto que tenha perdido.

O que perceberão ainda melhor ao ver que o prémio foi atribuído a Christina Lamb, do Sunday Times, por uma das suas reportagens no Afeganistão, região que conhece há mais de 20 anos. É uma das mais reputadas jornalistas do mundo, várias vezes premiada e eleita, por duas vezes, Correspondente Estrangeira do Ano. Aliás, foi também com uma reportagem no Afeganistão, na sequência da ocupação soviética, que recebeu, em 1988, o seu primeiro prémio, nos British Press Awards.
Deixo-vos os primeiros três parágrafos da reportagem Afghanistan: Mission Impossible, esperando que sigam o link e continuem a leitura. Ao fazê-lo, perceberão melhor porque voltei de Bayeux com o coração ainda mais cheio. Sobretudo cheio de vontade... de fazer mais e melhor.

"There is something sinister about the Chinook helicopter, like a giant, dark insect bearing down from the skies to disgorge battle-weary soldiers amid clouds of hot dust. When I think about war, whether it be ones I have reported in Iraq or Afghanistan or seen in Vietnam movies such as Apocalypse Now, the soundtrack in my head is always that of the throbbing blades coming closer and closer.
Last week I sat perched inside a Chinook flying over Helmand, trussed up in flak jacket and helmet, squashed between some Royal Marines arriving for a six-month tour. Unable to talk over the loud rotors, some had earphones attached to iPods. Others, like me, had to make do with yellow military-issue earplugs and spent the journey watching the gunner scour the parched land below through the open back.
For long distances there was nothing to see but our dark shadow skimming across the desert. On the horizon was a camel train, perhaps carrying the opium that will end up as heroin on British streets. Temperatures can exceed 50C out here, and the one mudwalled settlement we see seems to be sinking into the sands like an ancient ruin. Miles and miles from anywhere, we fly low over a man with a cloth turban wrapped round his head and a small herd of ragged brown sheep. He does not even look up. What does he think about these foreign soldiers flying back and forth, I wonder."

domingo, 4 de outubro de 2009

Polanski files

Foto: Samantha Geimer, no final dos anos 70. Em 1977, quando tinha 13 anos, foi drogada e violada pelo realizador Roman Polanski, que se declarou culpado em tribunal, fugindo depois... para nunca mais voltar aos EUA

Marcia Clarck, a procuradora que acusou O.J. Simpson publica, no Daily Beast, uma análise do caso Polanski. Recuperou o processo de 1977 e publica várias transcrições que não deixam o realizador nada bem no retrato... A descobrir, em The Lost Polanski Transcripts, e a aprofundar no especial sobre os 32 anos em que o realizador andou fugido à Justiça, até que foi preso, esta semana, na Suíça.