(Haiti, Janeiro de 2010/Patrícia Fonseca)
Foi há um ano. Sete graus na escala de Ritcher. 230 mil mortos.
Na tradição vodu, tão importante no Haiti, acredita-se que a alma dos mortos mergulha nas profundezas do mar e aí permanece durante um ano e um dia. Ou seja, as grandes cerimónias fúnebres recordando os mortos não acontecerão hoje mas sim amanhã. Milhares de famílias seguirão os sacerdotes vodu, rezando pelas almas que se libertarão das águas, pedindo para que reencarnem pacificamente nas árvores. Os haitianos dizem que, se ouvirmos atentamente quando o vento sopra, lá estarão, em sussurro, as vozes desses espíritos, tentando comunicar com o mundo dos vivos.
Eu não os ouço. Mas ainda ecoam em mim os lamentos dos que sobreviveram.
Tenho pena de não ter podido voltar a Port-au-Prince. Hoje gostaria de estar lá e de poder encontrar alguma explicação para o facto de só terem ainda retirado 5% do entulho que soterrou a cidade. De perceber porque raio não consegue Bill Clinton coordenar as mais de 4000 ONG's no terreno, a bem da população. Porque ainda existem mais de um milhão de pessoas em tendas, nas ruas, sem água nem saneamento, sem comida nem esperança.
As respostas não são fáceis de encontrar, eu sei. Mas algumas estão aqui, neste dossier do New York Times, e aqui, nas reportagens da enviada especial do El País. Ou neste artigo do Paulo Moura, no Público de hoje, As pedras ainda não saíram de cima de nós.
1 comentário:
As ong,s tratam da sua vidinha como sempre fazem.
A presença de tantas só prova que não fazem falta.
enquanto forem apenas agencias de bons empregos,a expensas de contribuintes incautos que não compreendem a sua própria naturza,é melhor que não estejam.
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