O primeiro-ministro Silvio Berlusconi utilizava aviões da Força Aérea italiana para levar os seus amigos a passar fins-de-semana na sua mansão da Sardenha. Será apenas mais um dos muitos abusos do primeiro-ministro italiano mas a verdade é que nenhum jornal do país investigou o assunto e foi o fotógrafo freelancer Antonello Zappadu que decidiu, desde 2007, investir o seu tempo na vigilância do que se passava na casa particular do político. E foi um jornal espanhol, o El Pais, que publicou parte desse trabalho - em Itália, o tema foi censurado e, por ordem do governo, mais de 300 fotos do jornalista foram apreendidas, quando este tentou vendê-las à revista italiana Panorama (de que Berlusconi também é proprietário...)
O primeiro-ministro já anunciou que vai processar o El Pais por invasão de privacidade. Pode ser discutível se as fotografias de apresentadoras de televisão, bailarinas e outras jovens em topless à volta da piscina de Berlusconi têm interesse público. Pode ser censurável a publicação de uma imagem onde se reconhece o ex-ministro checo Mirek Topolanek - está nu e, digamos, excitado com a paisagem circundante. Mas parece-me inegável o interesse da denúncia da utilização de dinheiros públicos italianos para a realização destas festas.
José Saramago, que viu os seus «Cadernos» recentemente censurados em Itália, pelo mesmo Berlusconi, partilha essa opinião. No El Pais de ontem escreve um artigo que, só pelo título, já seria arrasador: «A coisa Berlusconi»:
«Uma coisa perigosamente parecida com um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália.»
«Esta coisa, esta enfermidade, este vírus ameaça ser a morte moral do país de Verdi se um vómito profundo não o conseguir arrancar da consciência dos italianos, antes que o veneno acabe corroendo as veias e acabe destroçando o coração de uma das mais ricas culturas europeias.»
3 comentários:
Brilhante!
Excelente! A imprensa na vanguarda da denúncia das preversões dos (temporários)detentores do poder.
e eu a pensar em ir viver para aquele país tão maravilhoso. Azarinho. Tenho de gramar a coisa do Sócrates e afins.
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