terça-feira, 20 de maio de 2008

o fim do sonho?

Estive na África do Sul há seis meses e, percorrendo os bairros pobres do Soweto, ouvi inúmeras queixas sobre «o novo apartheid» que reina no país de Mandela. Falaram-me sobretudo de um «apartheid económico», que separa o mundo dos ricos do mundo dos pobres, mas transparecia nas palavras revoltadas daqueles homens e mulheres um outro sentimento: o medo de que, 13 anos depois da libertação, o desemprego, a fome e a criminalidade matassem o sonho da construção de um projecto a que o arcebispo (e Nobel da Paz) Desmond Tutu chamou carinhosamente de «nação arco-íris».
Os acontecimentos desta semana, que podem ser acompanhados em detalhe num dossier especial do The Times sul-africano, superaram os piores receios. Há muito que se falava da bomba-relógio que era o bairro de Alexandria, nos arredores de Joanesburgo, onde se foi instalando a maioria dos mais de quatro milhões de refugiados vindos do vizinho Zimbabué. Foi ali que começaram os ataques à comunidade imigrante, que já provocou 22 mortos.
Perante as imagens do horror, Tutu chorou, pedindo desculpa aos estrangeiros perseguidos no país:
I want to apologise, to ask for forgiveness on behalf of our people. I am deeply, deeply sorry. I want to apologise that we could be so inhuman.

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