Na manhã de domingo, nas últimas horas do cessar-fogo provisório declarado pelo Hamas e num dia decisivo para as conversações no Cairo, com vista à consolidação das tréguas com Israel, todos os palestinianos parecem ter saído à rua.
No centro da cidade de Gaza, há polícias e militares do Hamas em cada esquina, controlando os movimentos de quem passa. Junto às mesquitas destruídas, os homens entendem tapetes e rezam ali mesmo, no sopé dos escombros. Parece haver mais carroças do que carros nas avenidas principais – a gasolina é um bem raro e custa agora cerca de €2,5 por litro – e os burros esqueléticos galopam a custo, arrastando o peso dos legumes que carregam: cenouras, tomates, couves, laranjas. Hoje é o dia mais forte do mercado e os comerciantes erguem as mãos aos céus, agradecendo o regresso dos clientes.
Mas nem todos têm o que vender. Os talhos abriram com as montras vazias, uma ou duas galinhas a enregelar de solidão, uma perna de borrego pendurada numa porta. Não é possível comer um bife nem no restaurante do melhor hotel da cidade, o Aldeira. «Desculpe, mas não há peixe nem carne… só frango.»
Vêem-se centenas de mulheres de burqa, negras da cabeça aos pés, escolhendo víveres para reabastecer a dispensa. É rara a pessoa que se avista que não tenha, pelo menos, um saco de compras na mão. Depois de 22 dias de guerra, com o comércio quase todo fechado, muitas famílias passaram fome, todas viveram grandes dificuldades.
Hoje compraram o que puderam, conhecendo como ninguém a fragilidade de um cessar-fogo nesta zona do globo. E, enquanto regateavam o preço de 5 quilos de tomate (€4) ou bebericavam um sumo de alfarroba (5 cêntimos) na esquina da principal avenida, a Omar Mukthar, espalhava-se o rumor de que as crianças tinham sido enviadas para casa mais cedo, que os bancos fecharam antes de tempo e que a população da fronteira de Rafah havia sido evacuada porque as conversações entre o Hamas e Israel estavam terminadas – sem qualquer acordo.
Afinal, as negociações prosseguem na segunda-feira e os negociadores egípcios mantêm que será possível encontrar uma solução que devolva a palestinianos e israelitas alguma paz e normalidade ao seu dia-a-dia. A ver vamos. Ou, como tanto se repete por aqui, inshallah.
No centro da cidade de Gaza, há polícias e militares do Hamas em cada esquina, controlando os movimentos de quem passa. Junto às mesquitas destruídas, os homens entendem tapetes e rezam ali mesmo, no sopé dos escombros. Parece haver mais carroças do que carros nas avenidas principais – a gasolina é um bem raro e custa agora cerca de €2,5 por litro – e os burros esqueléticos galopam a custo, arrastando o peso dos legumes que carregam: cenouras, tomates, couves, laranjas. Hoje é o dia mais forte do mercado e os comerciantes erguem as mãos aos céus, agradecendo o regresso dos clientes.
Mas nem todos têm o que vender. Os talhos abriram com as montras vazias, uma ou duas galinhas a enregelar de solidão, uma perna de borrego pendurada numa porta. Não é possível comer um bife nem no restaurante do melhor hotel da cidade, o Aldeira. «Desculpe, mas não há peixe nem carne… só frango.»
Vêem-se centenas de mulheres de burqa, negras da cabeça aos pés, escolhendo víveres para reabastecer a dispensa. É rara a pessoa que se avista que não tenha, pelo menos, um saco de compras na mão. Depois de 22 dias de guerra, com o comércio quase todo fechado, muitas famílias passaram fome, todas viveram grandes dificuldades.
Hoje compraram o que puderam, conhecendo como ninguém a fragilidade de um cessar-fogo nesta zona do globo. E, enquanto regateavam o preço de 5 quilos de tomate (€4) ou bebericavam um sumo de alfarroba (5 cêntimos) na esquina da principal avenida, a Omar Mukthar, espalhava-se o rumor de que as crianças tinham sido enviadas para casa mais cedo, que os bancos fecharam antes de tempo e que a população da fronteira de Rafah havia sido evacuada porque as conversações entre o Hamas e Israel estavam terminadas – sem qualquer acordo.
Afinal, as negociações prosseguem na segunda-feira e os negociadores egípcios mantêm que será possível encontrar uma solução que devolva a palestinianos e israelitas alguma paz e normalidade ao seu dia-a-dia. A ver vamos. Ou, como tanto se repete por aqui, inshallah.
(Post originalmente publicado no site da revista Visão)
2 comentários:
Boa crónica. (nunca mais acaba essa maldita guerra...)
Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO
Obrigada. Talvez um dia possas escrever sobre o assunto, também.
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