segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Leitura da semana

(Foto: João Pina/New Yorker)

Muito se escreveu sobre o Haiti mas o texto de Jon Lee Anderson, na New Yorker, é diferente de tudo o que já leram - garanto-vos! Em Portugal, raros seriam os jornalistas a arriscar um ângulo destes... Já não bastava a reportagem ser escrita na primeira pessoa - por cá, ainda somos sobretudo narradores distantes, tentando passar invisíveis -, como o jornalista não hesitou em assumir o seu papel na história, envolvendo-se na busca desesperada de uma comunidade por comida, colocando ao dispôr a sua carrinha pick-up e intercedendo por eles, junto das autoridades.

We told Nadia and her companions—there were nine of them—to hop into the back of the truck, and we set off to look for food. Despite the rumors, which had attracted several hundred Haitians to the road by the airport, to gather and stare hopefully, no food was being given out there. We drove onto a nearby field where there were tent camps and aid supplies, demarcated with a dozen or more national flags, but it was a bivouac, not a food-distribution point. We asked a U.N. peacekeeper where to find aid; he said he didn’t know. Someone told us that food was being handed out at a factory nearby, where the Dominicans had set up a base, and so we drove there.

Não é ele, obviamente, a personagem principal desta história: é Nadia François, uma mulher que anda por toda a Port-au-Prince, com um grupo de jovens e uma carta do padre da sua comunidade, à procura de mantimentos para os cerca de 300 habitantes do seu bairro (Fidel, em honra do líder cubano...). Uma heroína invulgar, com cadastro nos Estados Unidos, que se torna íntima de todos nós, a cada linha que passa. Pelo meio, conhecemos um sacerdote vodu, ladrões que são mortos nas ruas, voluntários americanos que não dormem. Uma história inesquecível. Obrigada, Jon Lee.

2 comentários:

Anónimo disse...

Num cenário como o Haiti não faz sentido que o jornalismo seja despojado de sentimento, envolvimento e emoção. É absurdo. O jornalismo do lead está muito bem para a maioria das coisas, mas em reportagem de guerra ou similar o jornalista é uma parte envolvente e o leitor prefere perceber isso a entender a distância dita profissional. Digam lá o que disserem. Bj P

Patrícia Fonseca disse...

É um equilíbrio difícil... mas aqui foi feito forma magistral. Beijos, muitos.