Tom tinha apenas 22 anos. Morreu em 2004, protegendo uma criança palestina do fogo israelita, em Rafah, perto da fronteira do Egipto. O jornalista Robert Fisk relembrou a sua vida, e a sua coragem, na sua habital coluna do Independent, a propósito do lançamento, em Inglaterra, dos diários do jovem activista (edição que terá um prefácio de Fisk).
Tom Hurndall, como contou o Guardian na semana da sua morte, era um estudante de Filosofia apaixonado pela escrita e pela fotografia. Mas era, sobretudo, um homem bom, que queria estar ao lado dos injustiçados, que queria «fazer a diferença». Antes de chegar a Gaza, tinha passado pela Jordânia, onde se juntou aos voluntários nos campos de refugiados, e pelo Iraque: ele foi um dos escudos humanos que estava em Bagdad no início do guerra, tentanto travar as bombas do «Eixo do Bem».
Robert Fisk acaba hoje por lamentar a forma como os jornalistas (ele incluído) viam estes activistas «lunáticos»:
«He was one of a bunch of "human shields" who turned up in Baghdad just before the Anglo-American invasion in 2003, the kind of folk we professional reporters make fun of. Tree huggers, that kind of thing. Now I wish I had met him (...). He was a remarkable man of remarkable principle.»
Tom fazia parte do ISM - International Solidarity Movement e, em Gaza, ajudava famílias palestinas a recuperarem as suas casas, destruídas por sucessivos ataques israelitas. A 11 de Abril de 2003, vestindo um colete laranja com a identificação da organização, estava envolvido na reparação da rede de fornecimento de água e de telecomunicações à cidade de Rafah. Um grupo de miúdos brincava perto de si e, quando os soldados israelitas começaram a disparar para o monte onde se encontravam, todos fugiram - excepto três crianças, com idades entre os 4 e os 7 anos, que ficaram petrificadas pelo medo. Tom agarrou num rapaz e levou-o para uma zona segura, voltando em seguida para resgatar uma menina. Foi imediatamente atingido com uma bala na cabeça.
Não morreu de imediato. Ficou duas horas na fronteira, à espera de autorização de Israel para ser transportado para o hospital de Be'ersheva e, daí, foi transferido para Londres, onde sobreviveu, em estado vegetativo, até 13 de Janeiro de 2004.
O soldado israelita que o matou foi acusado por «ofensa corporal grave». Segundo a organização israelita B'Tselem, mais de 500 activistas pela Paz foram mortos pelo Exército hebraico em Israel e nos territórios ocupados, desde o ano 2000.
O britânico Tom Hurndall era apenas um dos muitos cidadãos anónimos que não se resignam à ideia de que é impossível mudar o estado das coisas. Que, todos os dias, estão dispostos a dar a sua vida pelas causas em que acreditam. Já não há heróis? Não voltem a repetir essa ideia feita, por favor. Façamos aos Toms deste mundo, pelo menos, essa justiça.
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