domingo, 13 de setembro de 2009

As eleições em Portugal... vistas de Angola

Interessante este editorial de José Ribeiro, director do Jornal de Angola...

Campanha à portuguesa
Portugal está em plena campanha eleitoral para as legislativas, às quais se seguem as eleições autárquicas. Pelos ecos que nos chegam a campanha vai animada e cada partido representado na Assembleia da República faz tudo para convencer o eleitorado a dar-lhe a confiança do voto. O que se passa em Portugal é igual ao que se passa em todo o mundo e exactamente o mesmo que aconteceu em Angola há um ano, quando os angolanos foram às assembleias de voto escolher o partido que devia governar o país. Digo que é tudo igual, mas há algumas diferenças que quero evidenciar. Angola não mandou maquilhar jornalistas para irem a Portugal perturbar o processo eleitoral, destabilizar o eleitorado e fazerem campanha contra um dos partidos concorrentes às eleições. Não mandou jornalistas para curas de emagrecimento para depois em Portugal se colocarem ao lado dos que escondem a pobreza envergonhada nas bicas do café. Não entramos nessas operetas ridículas e respeitamos todos os povos e todos os países de mundo, mesmo aqueles que promovem atropelos à ética global. Os angolanos vão recebendo notícias da campanha eleitoral em Portugal e os órgãos de informação nacionais guardam a distância que se impõe para marcar a diferença entre o que alguns órgãos de informação portugueses fizeram há um ano e o que fazemos nós, agora. Quem quiser aprender a lição, que aprenda. Quem não quiser pode continuar a mostrar que vale muito pouco. Os ecos que nos chegam da campanha eleitoral em Portugal trazem uma vez mais declarações estranhas sobre Angola. Há quem esteja interessado em envolver o nosso país na disputa eleitoral em Lisboa, fazendo declarações a roçar o insulto. Se respondêssemos, fazíamos um grande favor aos detractores. Por isso, nem respondemos nem nomeamos. Apenas registamos que em Portugal há políticos que não conseguem dormir descansados enquanto existirem empresas e empresários angolanos a fazerem o seu trabalho. E por qualquer razão que não interessa aqui referir recusam ou ficam preocupados com a entrada de capitais angolanos em empresas ou grupos económicos portugueses. E dizem isso em debates eleitorais. Há neste comportamento uma tendência para quem está desprovido de qualquer ética querer dar lições a Angola. Só assim se compreende quem ignora os casos de corrupção, clientelismo, nepotismo, má gestão, pedofilia, que vieram a público em Portugal. Para não falar da tentativa aberta de domesticação dos órgãos de informação por grandes grupos económicos ou aparelhos partidários. Mal se percebe que tendo os países da Europa e os EUA mergulhado o mundo na mais grave crise financeira de todos os tempos, que governos democráticos já tenham privatizado no Ocidente mais de 60 bancos, que tenha vindo a público tanto escândalo político, tanta corrupção, ainda existam em Lisboa políticos apontando o dedo ao nosso país, que vai conseguindo, com muito esforço, reparar o que foi destruído e até agora tem conseguido enfrentar a crise como sabe. Os que tentam arrastar Angola para a campanha eleitoral em Portugal mereciam uma resposta à letra, quanto mais não seja pela falta de pudor. Mas até ao contar dos votos, vamos ficar em silêncio. Até porque temos esperanças de que os eleitores portugueses lhes dêem, por nós, a resposta merecida.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que bela chapada. Um encanto.

luguara disse...

o mau estado das coisas na casa do outro não deve servir um pior estado das mesmas coisas na minha casa.

As questões não podem ser vistas como comprometendo o país de que as diz ou faz, há sim problemas nos dois paises e que são mais graves em Angola. Quem sendo angolano e ou pessoa conhecedora de Angola o negar não pode, pelo menos por mim, ser tido como pessoa honesta.

Há em Angola uma situação muito grave no que respeita aos direitos humanos, ao acesso à justiça, no que concerne à corrupção etc. Pesquise-se sobre os dois países e com base em dados crediveis façam-se as comparações justas e com rigor

luguara disse...

Corrigindo:

queria dizer que: o mau estado das coisas na casa do outro não deve servir PARA JUSTIFICAR um pior estado das mesmas coisas na minha casa.


Sou angolano

Patrícia Fonseca disse...

Iuguara,
Eu não concordo com todos os textos que reproduzo aqui... achei apenas interessante divulgar aquele ponto de vista ( e vários jornais e tvs fizeram o mesmo, no dia seguinte).
Volte sempre!