sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Um Mandela para a Palestina



«And while I strongly oppose attacks and the targeting of civilians inside Israel, our future neighbor, I reserve the right to protect myself, to resist the Israeli occupation of my country and to fight for my freedom.»
Marwan Barghouti

A Reuters publica hoje uma entrevista rara, concedida por escrito e por intermédio de advogados, a Marwan Barghouti, o «pai» da Intifada palestiniana que está preso em Israel desde 2002 - foi condenado a cinco penas de prisão perpétua pela autoria moral da morte de cinco israelitas.
Há cinco anos, quando Yasser Arafat foi evacuado para um hospital em Paris, de onde regressaria já sem vida, visitei a sede do movimento Free Barghouti, em Ramallah, tentando compreender quem era este homem que todos os palestinianos me diziam ser o único capaz de suceder a Arafat. Percebi que, mesmo na prisão, quase sem contacto com o mundo exterior, ainda era ele que negociava tréguas entre grupos rivais. Respeitado pela Fatah e pelo Hamas, era também uma figura que recolhia simpatias internacionais. Talvez porque, apesar de defender a «resistência contra o ocupante», sempre disse repudiar os atentados contra civis. Muitos consideram-no o «Mandela palestiniano» e a sua libertação tem sido defendida por personalidades como Noam Chomsky, José Saramago... e o próprio Nelson Mandela.
Há cinco anos, quando os palestinianos se viram perante a necessidade de eleger um novo presidente, Barghouti liderava todas as sondagens. Mesmo condenado a morrer na prisão, ganharia a todos os adversários, com maioria absoluta. Mas acabou por anunciar que não se candidatava e apoiou Mahmoud Abbas (que venceu).
Agora, com a Autoridade Palestiniana de novo à beira do colapso, volta a falar-se em Barghouti para unir as várias facções e devolver alguma esperança e ânimo ao povo. Nesta entrevista à Reuters, diz-se disposto a «ponderar» a possibilidade... Mahmoud Abbas já anunciou que não será candidato às eleições previstas para Janeiro e não se perfilam candidatos com o carisma necessário para ressuscitar o sonho da paz e da independência.
As próximas semanas poderão trazer desenvolvimentos decisivos: as negociações para a libertação do soldado Gilad Shalit, raptado por um grupo palestiniano em 2006, estarão bem encaminhadas. A lista de prisoneiros a «trocar» já teve muitas versões mas no topo das prioridades, com o acordo da Fatah e do Hamas, resiste sempre um nome: Barghouti, pois claro.

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