sábado, 9 de maio de 2009

Lost and found


Há dias assim. Especiais. Hoje deixei a minha escrita de lado e fui ouvir os mestres. Inscrevi-me num seminário de jornalismo literário sobretudo pela vontade de ouvir Mark Kramer, jornalista e professor na universidade de Harvard. Mas foi Sukemu Mehta que me enfeitiçou. Fiquei duas horas (que me pareceram dez minutos) a ouvi-lo contar histórias. Ou melhor: a sua história, que é também a história do livro Maximum City: Bombay Lost and Found.

Sukemu nasceu em Calcutá, cresceu em Bombaim e aos 14 anos emigrou com a família para Nova Iorque. Na viragem do milénio decidiu regressar à Índia, à cidade da sua infância e adolescência, que não visitava desde 1977. Queria perceber se poderia voltar a viver em Bombaim. Conseguiu durante dois anos e meio. Dessa experiência resultou este livro, uma espécie de psicanálise da cidade que, a cada ano que passa, ganha mais um milhão de habitantes.

Sukemu não se limitou a escrever sobre a sua vida nesta mega-cidade: entrevistou os líderes dos dois gangues que dominam o território (um hindu, outro muçulmano), assassinos a soldo e polícias que, achando-se honestos, torturavam e executavam criminosos.... e, claro está, estrelas de Bollywood.

Os direitos deste livro-reportagem, vencedor do prémio «Primeira Obra» do Guardian e finalista dos Prémios Pulitzer, acabam de ser comprados por Danny Boyle (Slumdog Millionaire), para adaptação ao cinema. Deixo-vos um excerto:


«There will soon be more people living in the city of Bombay than on the continent of Australia. Urbs Prima in Indis reads the plaque outside the Gateway of India. It is also the Urbs Prima in Mundis, at least in one area, the first test of the vitality of a city: the number of people living in it. With 19 million people, Bombay is the biggest city on the planet of a race of city dwellers. Bombay is the future of urban civilization on the planet. God help us.
(...)
Each person’s life is dominated by a central event, which shapes and distorts everything that comes after it and, in retrospect, everything that came before. For me, it was going to live in America at the age of fourteen. It’s a difficult age at which to change countries. You haven’t quite finished growing up where you were and you’re never well in your skin in the one you’re moving to. I had absolutely no idea about the country America. (...) I traveled, in twenty-four hours, between childhood and adulthood, between innocence and knowledge, between predestination and chaos.
Everything that has happened since, every minute and monstrous act—the way I use a fork, the way I make love, my choice of a profession and a wife—has been shaped by that central event, that fulcrum of time.»

5 comentários:

Zé Ferreira disse...

Cara Patricia,
Gostei do que escreveste sobre este tema, sobretudo o teu reconhecimento à superior visão do Sukemu.
Supondo que desejes aprofundar o tema, sugiro uma saltada ao link
http://www.youtube.com/watch?v=6-3X5hIFXYU
Não obstante duvidar da s/isenção, sobretudo na formula de apresentação, recomendo, por conter dados sociologicamente incontornáveis.
Saudações amigas,
Zé Ferreira

somethingformypleasure.blogspot.com disse...

Patricia,
Ainda a propósito do teu blogue em geral e minha inopinada intromissão no mesmo, quero simplesmente confirmar-te que uma das razões - para além da tua indiscutível valia jornalística - me levou a seguir o mesmo, foi o facto da tua asserção clara e desinibida em relação ás saudades do grande jornalista que foi o Carlos.Também eu como leitor, tenho saudades do Carlos.
Zé Ferreira

somethingformypleasure.blogspot.com disse...

Patricia,
Certamente me irás desculpar, mas sou relativamente novo nestas novas maneiras comunicacionais. Tenho vindo a tentar adaptar-me...
Notei agora que já efectuei hoje dois comentários e, qualquer deles com remetente diverso. Trata-se da mesma pessoa, sou o Zé Ferreira.
Peço desculpa e prometo tentar melhorar a minha performance blogueira!

Patrícia Fonseca disse...

Olá Zé! Bem-vindo ao Blogkiosk! Estive a ver o vídeo sobre a demografia e os muçulmanos, a informação é um pouco tendenciosa mas, de facto, é para onde caminhamos... De qualquer forma, tem alguns dados desactualizados. O que mais me preocupa é a sustentação da Segurança Social e o caso da França mostra que ainda é possível fazer qualquer coisa - desde que haja vontade política. França investiu nas políticas de apoio à maternidade em força, criando nova legislação para a conciliação do trabalho e da família, alargando as redes de apoio escolar, etc. Já atingiu, no ano passado, 2,1 de taxa de fertilidade. Por cá, é o que se vê. Estamos nos 1,3.

somethingformypleasure.blogspot.com disse...

Obrigado pelos teus comentários. Estou de acordo contigo quanto a uma das formulas possíveis de sustentação do sistema através do estimulo e apoio à maternidade( a francesa é uma delas) Todavia sou extremamente céptico quanto à gestão dos recursos financeiros dos diferentes governos, sobretudo agora, preocupados como andam em sobreviver à crise. Só a titulo de informação dir-te-ei que me considero de consciência tranquila em termos de contribuição positiva para a parca estatistica nacional, 5 filhos (três raparigas e dois rapazes) Alguém que se esforçe também!!
Por aqui me fico, pois já nem abono de familia recebo!