quarta-feira, 6 de maio de 2009

Nas ruas de Beirute

Estive em Beirute pela primeira vez há quase três anos, durante a guerra entre o Hezbollah e Israel. Apesar das circunstâncias, apaixonei-me pela cidade. E prometi a mim própria que regressaria em breve. Ainda não consegui cumprir a promessa mas hoje andei, por momentos, naquelas praças debruadas com esplanadas, onde os homens passam as tardes a fumar nargilah. Fui pela mão de Christopher Hitchens, que publica um relato da sua última (e atribulada) visita a Beirute na Vanity Fair deste mês.
Em The Swastika and the Cedar cabem todas as emoções contraditórias de um ocidental recém-chegado ao Médio Oriente: o deslumbramento pela beleza arquitectónica, pela riqueza cultural, pela diversidade de credos e opiniões, pela firmeza das convicções; mas também o receio pela violência das divergências, pela raiva à flor da pele, pela sede de vingança que suga cada pedaço de normalidade conquistada.
Hitchens passeava no centro de Beirute quando encontrou um cartaz do SSNP - o partido socialista nacionalista sírio, que tem como símbolo uma suástica. E não conseguiu passar ao lado. Agarrou numa caneta e começou a escrever uma mensagem de repúdio no cartaz. Mas logo foi agarrado por um militante e acabou por ser espancado...
A partir deste episódio explica-se também a influência da Síria no Líbano e a volatibilidade da paz nas ruas de Beirute: num minuto, Hitchens passou de um turista feliz, a passear na baixa da cidade, a um inimigo em fuga, ensopado em sangue. E deixou o país com a sensação de que os «ensaios gerais» estão quase a terminar - os «ensaios» para a guerra entre Israel, Síria e Irão.

5 comentários:

Astor disse...

Aquela que já foi a cidade mais europeizada do Médio Oriente...

Patrícia Fonseca disse...

A mítica «Paris do Médio Oriente» ainda existe. Mas as liberdades (políticas, de expressão, de credo religioso) estão cada vez mais fragilizadas.

Anónimo disse...

Boas, amiga Patricia.
Pois, a sencacao de Hitchens e' a sencacao de boa parte do mundo, infelizmente.
Deixei uma menssagem no artigo das fotos.

Saudacoes,

Horta

Astor disse...

Já agora... sobre o Médio Oriente (e já que a fascina tanto) que livros aconselha?

(sobre a sua história contemporânea, política, guerra, etc)

PS: acabei de mandar vir um do Frisk.. :)

Patrícia Fonseca disse...

Pois, o Robert Fisk é incontornável... :) E porque não ler em português? Sugiro o «Oriente Próximo», da Alexandra Lucas Coelho.